MARANHÃO, Haroldo. Chapéu de três bicos. Rio de Janeiro: Estrela, [1980]. 43 p.

º filho da puta agarrou-me pela camisa com a mão esquerda,levantou-me dos~ alho como se levantasse boneco ou menino e derrubou-me: um soco no meio da cara. A dor não sei por que suportei, ~ nao sei, o golpe trazia o peso e a potência da raiva; 0 0 - sa!! gue vazava do nariz e entrava-me na boca; eu respirava no descompasso dos bichos mor rendo, e quando aspirava o ar entravam gol fadas mornas que em seguida refluiam enso- pando e tingindo a camisa. Rolei e de bru ços, o nariz no chão, usando as mãos prot~ gi as orelhas e a fronte, retesei as per- nas para resguardar o sexo, iludido de que a ingênua providência evitasse tudo o mais. De propósito deixaram-me em paz uns momen– tos, acho que de propósito. Ninguém fala va ou se mexia. Imóvel também me conserva va, os olhos apertados, as mãos rigidamen– te aplicadas aos ouvidos, como se vedá-los me encapsulasse em esfera de aço, que for- ça nenhuma romperia. Incomodava o frio da madeira na barriga, que a camisa rota em tiras expusera, um dos sapatos nem vi qua!! do saltou do pé. Nada sucedia além do si l êncio e da minha tensão. Cheguei a admi ' tir que me haviam largado, enfim convenci- dos de que eu nada sabia, quem era o Baia J J_

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