MARANHÃO, Haroldo. Chapéu de três bicos. Rio de Janeiro: Estrela, [1980]. 43 p.
se, reassimilar-se ao corpo. A mao avan çava, e e1J tinha medo, como· se fosse, e P.:!:. recia, um bicho. A idéia infiltrou-se, minando-me, t-2:. d o era uma grande merda, nao passava tudo de grande merda mesmo. Olhava o mar, ove.!: de movendo-se, sentado na rampa de pedra, a espuma fria me espetava a cara. Seria simples: abrir a maleta e usar de UJD go1pe o cutelo comprado no açougue loucamente,•~ t ndo na mão do homem dinheiro tão absurdo ue ele espántado entregou logo, 1ogo a a ada a rma suja de sangue, como se :f'osse u 1 c omércio venderem-se cute1os nos a– çou ues , s em ao menos limpá-los, sem embru har , n ada. A obsessão antiga do mar, aqu e1a Ba.!, sa vasta e limpa, decente cemitério para a que~ida, que muito trabalhou e muito amou, leve aca,rinhou cabeleiras, amornou epide,E mes e hábil premindo-as que se encrespava a penugem, a boa filha duma puta. Ia •para o mar; ninguém sacanearia com e1a, ~o. O mar que a consumisse com seus frutos,o seu sal, quem sabe restasse fragmento de osso, alvo, · gasto, que um menino achando-o na a reia, di~traído brincaria por momentos e de novo jogaria fora numa petelecada. 14-1
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