MARANHÃO, Haroldo. Chapéu de três bicos. Rio de Janeiro: Estrela, [1980]. 43 p.

falava de muito amor, muito amor houvera mesmo, chegamos a rolar um dia da cama p~ ra o chão encerado, em pé nos amávamos, às , vezes iamos sain'do, já descíamos o ele- vador, a carne alegre, quando matreiramen– te nos olhávamos, sorríamos - e de novo su bíamos para a ~eleitosa luta corporal. So bressaltei-me falando alto: - Al ~! E me enxergava rápido caminhando na direçãõ da praia, vestindo calção, mas de~ calço, toalha atirada ao ombro, estirando o braço direito e apontando a água já pró xima e como que incitando todo o mundo a ' seguir-me, estrepitoso bradava e até incon venientemente: - Al mare! Al mare! -- ----- O grito retirou-me da letargia em que frequentemente me afundava, após hia- tos de lucidez. Sentia febre, elevada po~ que delirava, à minha frente transitavam como num palco fatos miúdos e remotos, os quais nunca me ocorreram, nunca. Sofia Lo ren, por que Sofia Loren?, o vestido enso– pado, bebendo água da bica com as mãos em concha? A caneta Parker 51 que me rouba- ram, era novidade, foi das primeiras Par– ker 51 chegadas, pouca gente conhecia. Meu 24

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0