CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

.. uma logo se perguntava se aquilo não seria de encomenda, coisa para engabelar turista. Mas parece que não, era mesmo o cantinho deles, sombrio, em pleno luzeiro da praça. Tão deles, tão exclusivo, que quando Angela ali entrou (as demais ficaram na calçada, um tanto apavo– radas, a fama do barzinho era terrível), a pretexto de um cafezinho, a mulher da caixa recebeu-a com olhos de espanto - tomavam-na por uma da polícia, uma assistente social? Deu-lhe a ficha de má-vontade. A que lhe serviu o café, idem, eram as únicas mulheres ali dentro, os de– mais homens, homens? be homens os rostos maquilados, os cílios postiços, e os cochichos, pelas mesas, pelos can– tinhos, aos abraços, nos agarrados? Eles a miravam com raiva, que vem fazer aqui essa inimiga? Peter me visse, hein? Olhos de ódio escorraçavam-na. Como se a solidão particular deles os tivesse para ali juntado, arrimavam-se uns aos outros (isto é só nosso, fora sua fêmea, fora, sua intrusa, era o que os olhos deles diziam, cheios de ódio). Mal engoliu o expresso fervente, saiu, escabriada. A porta, Franca, bufando de ira: "Pouca vergonha, viram? Os sujos, como te olharam, falta de pau!" - Mas gente nós estamos aqui é para ver, beber Pi– galle, não para julgá-la - diz Paulina, a hindu. - Ademais - falou Angela - é o aspecto menos Paris possível. Já está ali há bem dizer um ano, "digo a vocês, este é um dos rostos mais falsos de Paris". Fran– ca: "Existe uma Pigalle em qualquer parte, qual a cidade ou mesmo a vila que não tem a sua rua de putains, de caftens? Aqui, mais é a fama." Mima guardava uma curio– sidade: lugares com espetáculos particulares, caríssimos, ver gente fazendo coisas. . . existe mesmo? - Isso é comum - respondeu Franca - no geral, é por detrás de cada um desses cabarés (Não é só em Pigalle - pensava Angela - Betsabete conhecera um partouze). - Me conta, me conta como é isso, dos casais (Mima arregalava um olho, excitada) ah, isso eu queria ver. Não creio. - Não? Pois passa ali, como quem não quer e que– rendo, vês aquele velho, ali na porta daquele cabaré, o que atrai turistas para o espetáculo? - basta passares devagarinho, e vê o que te diz - Franca relatava, essa vinha a Paris duas, três vezes por ano, e servira de guia - ouve só o que ele te propõe. Imitava a voz do velho : 93

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