CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

exteriores, certamente de propósito. Depois dos escoteiros, acampagens ao sol e à chuva, essas bravatas, vinha uma destinada a ela, mas era o padre, não o amoroso: "Angela, se cuide - o Estágio começou? Vá um pouco ao campo, vá a Sr. Fargeau com aquela familia amiga, tome uns banhos no Sena, se distraia" - aconselha-me a que o esqueça, claro. Ou se preocupa, real, com a minha má– goa? Talvez seja isso, e aqui esteja o meu Peter, só aqui, neste finzinho, é ele, descobre nas entrelinhas uma doçura, um carinho, uma saudade talvez, uma prova, mínima, de que sofria por ela ... - Posso entrar, Maria Madalena? - vem de cara carregada de reprovação pela carta, vem com suas armas, o aspirador, a vassoura, varrer-lhe do peito a mágoa estú– pida, pudesse: "Então, que que ele te conta, o teu padre, hein? - dá um olhar às páginas espalhadas em cima da cama - devia estar em crise de colite, olha só como des– pejou" - ri com o canto da boca, debochativa. - É a primeira, Bete, n ão achincalhes, ele se preo– cupa comigo, me quer bem. A outra nem pede licença, apanha umas folhas, vai lendo, aqui, ali, ao acaso, os beiços depreciativos, aquilo a enjoasse. Angela acabou lhe entregando as últimas - e lhe devorava o rosto, Betsabete sabe ler nas pessoas, cata– loga as pessoas num olhar num átimo - leu, leu, o mesmo trejeito. E o comentário, ao entregar-lhe o maço, quatro ou cinco páginas - foi um só e saiu vivo e brusco como uma cusparada, de banda, um esguicho: "C'est de la merde!" - Mas Bete! - C'est de la merde, te digo. - E com fúria começou a bater as cortinas, e quando passa feito um furacão para o lado do banheiro e se põe a abrir torneiras e a esfregar, era Peter que esfregava, em sua ira. Angela se debruça sobre o seu bulevar, os carros cin- · tilavam ao sol, as cadeiras do bar dispostas na calçada, o rapaz, filho dos argelinos, um que tocava violão, chegando do Halles com seus caixotes, descarregava o carro; em frente, uma velha senhora esticava o braço como um agente, um guarda de trânsito, para fazer parar os ônibus, pois nessa esquina, Armorique, não havia sinalização, e a senhora atravessa, bem velha que ela era, mas o andar 90

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