CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
recentemente foi de um jovem brasileiro narrando suas an– danças - quase como no On the Road de Jack Kerouac - pelas ruas de Londres, de Amsterdam, de Nova York e pelas estradas norte-americanas. Agora surge Breve Sempre, com Paris na base. Paris, vista por Lindanor Celina, aparece de modo dife– rente do que era costume haver em romances mais antigos. Sua Paris é a de agora, do começo da década de 70. E é também uma Paris brasileira, onde se fala português quase o tempo todo e onde uma pessoa não se sente muito afas– tada de Belém, Brasília ou Rio. Por muito que vivamos num tempo, nossa memória literária pertence a período anterior. A Paris que muito leitor tem na cabeça é uma cidade morta, a de Balzac, ou a de Zola, ou a de Proust, ou a de Mauriac, ou a de Ehrenburg, ou a de Sartre, ou a de Robbe-Grillet - que todas estão mortas, mesmo as de Sartre e Robbe-Grillet. Há hoje outra Paris, a Paris pós-Mercado Comum que ainda não estava em romance e que talvez só um estrangeiro pu– desse ver inteiramente à vontade. Esta é a Paris de Breve Sempre, cidade em que uma brasileira se movimenta, na pungência de seu caso de amor que termina e de amor que nasce. É uma Paris brasileira porque nela os brasileiros se sen– tem em casa como à vontade está o romance no descrevê– -la. Para a narradora, é como se fosse um burgo abrasilei– rado, e aí vejo uma vantagem, a de que pôde ela, assim, perceber-lhe o significado mais fundo. O modo como Lin– danor Celina leva à frente sua obra é de romancista reali– zada. Não há nela uma hesitação, uma parada de quem não sabe como continuar a narração - ao contrário, a história prossegue num ritmo solto, livre, contudo espesso, contido, num equilíbrio perfeito de quem vê quando é preciso pren– der, e quando soltar, a narrativa. Daí, a desnecessidade de capítulos, o romance flui sem divisões, sem interrupções, num fôlego, num hausto. Breve Sempre ganha, com isto, uma extraordinária cadência de beleza, o que é aumentado pela sabedoria repetitiva da autora, que sabe repetir palavras no momento em que a repetição dá mais efeito à narração. O recurso da dialogia - usar a mesma pal avra em sentidos di– ferentes - não consegue às vezes ser tão forte como a re– petição pura e simples de que Gertrude Stein se tornou símbolo.
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