CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

mais com cara de assassino, como no inverno brabo. Guar– davam o ar urgente que era deles, mas na maioria se notava um élan - era o sol. E das gentes do quarteirão, amigos de cada dia, a doceira, a merceeira, a do armarinho, todos tinham um projeto, uma alegria pelo que faziam nesses dias: "Nós partimos para o sul." Outro: "Nós vamos a Dordogne." Ou: "Gente vai para a Bretanha, casa de nossos parentes." Até os que não tinham para onde ir (dizia Bete), trancavam-se por dentro durante quinze dias, vinte dias, tabuleta na porta: "Fechado para férias." E.sno– bes a tal ponto? Bete assegurava-lhe que sim, um terço pelo menos daquelas tabuletas era de mentira, não saiam do quartier, não possuíam meios. Mas a verdade é que a cidade se despovoava. A cada um dos vizinhos tinha de responder - à confeiteira que lhe reservava o seu babarau-rhum, à merceeira, aos arge– linos - dizer-lhes que estava em Paris para estudar e aproveitaria esse tempo para novos cursos. "Mas é um crime, Mademoiselle deveria pelo menos fugir por uns dias, Paris vai estar insuportável, vazia e quente, entupida de gringos", tratavam-na como a uma da terra. Um senhor idoso, bigodudo, perguntou-lhe um dia, perto da estação do Montparnasse: "Você é bretã?", talvez por não ser alta, por sua pele rosada, seu nariz celta. - Laura, o café. A outra aperta o botão da pera, a luz de uma falsa noite se cria ali, no quarto de cortinas cerradas. Antes assim, esta noite mentirosa entre nós, que ninguém mais me devasse estes olhos inchados. Laura toma a xicara com as duas mãos e vai sorvendo deliciada, olhos fechados, o café perfumado e espesso: "Eta que tá é quentinho, nada como isto para levantar um moral. Toma um pouco, benzinho, isto apaga até remorsos, dá-me uma danação." E era, o café a dopava que nem uma droga. Igual a uma bebida. ~ Senta aqui, meu bem, conta pra mana com.o f0j - porque fala assim, não devia, ela que a esquec~Uc du– rante a longe noite, isto não de\éia, essas fr.ases tão rar~, não é mulher de ternurinhas, não liga v:eramente a des_, .. gosto de ninguém, é boa quando toca um v,iolão, quando narra uma noitada, isso que é g.ostoso, suas noites no Feiioada, cantigas que o Vinicius faz nascer ali, à margem 'l8

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