CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

e tudo o que faço agora, só fiz foi transferir de m6tivo - o que era por causa do Albano, as farras, os porres, as noite brancas, tudo hoje é pelo Thomas. Já vês que não há cura. Só o suicídio, minha nega. Mas bonito consolo a quem está como tu. Não te digo que não presto nem para amiga? Mas ai que fome! Betsabete anda por aí? - Sim, estava no terceiro, quando subi. Mas deve haver ainda um pedacinho da vache-qui-rit e os pêssegos. - Um café, uma boa xícara de café pretinho e chei– roso é que me tirava num minuto desta lomba. Uma coisa ígnoras: não dormi com o italiano. Por tua causa. Para estar contigo esta manhã. Só preciso é de um café. Chama a Betsabete. - Não, Laura, eu vou, pego aí mesmo no bar, levo a garrafa, trago quentinho. - Quid retribuam Dominum? - Laura representan– do, abre os braços nus: Bichinha, eu torrada, reduzida a rapé, não pago um centavo do que tens feito por esta extraviada. Mariângela desce, os ralhas de Bete atroam no ter– ceiro andar: "Já sei, vais buscar café praquela vaca pre– guiçosa, vai, paga-lhe o quarto, dá-lhe comida na boca, para isso nasceste, ser besta como esta aqui - batia na peitarra - somos duas bestas, e quem nasce pra besta ... Vai, que a puta-de-olho-verde lá de baixo está hoje nos azeites. Temos pano pras mangas" (chega-lhe perto, o assunto temido está entre ambas: Peter, não mais no trem, mas ali, entre as duas, elas o sabem, tudo aquilo não passa de uma evasão, a figura de Peter, Peter subindo estas escadas, os degraus de três em três, feito um garoto, só para vê-la no dia da febre, e no outro, do perdão). Bete chega pertinho, suor lhe escorre do pescoço vermelho, num minuto se faz pequena, os olhos azuis perdem toda a fereza, é a mãe, a que se esfalfa pelo seu môme, é a das pernas de varizes que se mata pelo filho, a que lhe traz, de vez em quando, uma maçã, a mais linda que furtou no Halles, onde trabalha de madrugada, descarregando cai– xotes, é a Mãe-doçura: "Então, mon petit chat? Ele se foi?" Ângela, chorar agora não, com esta garrafa térmica nas mãos, nesta escada, hóspedes passando. Mas a lágrima já se soltou, Já desceu, ela só faz que sim com a cabeça, que voz não tem para mais nada, estão no patamar do 77

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