CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
para não ficar perto de papai, mas não é so isso, é mais a paixão pelo padre, uma esperança doida - de quê? A Aliança Francesa quase sem ninguém, esses primei– ros dias de julho, um deserto, a provação, suportar Paris vazia, antes do Estágio. Tão vazia que era de um vivente transitar sem cuidas nem sobressaltos cruzamentos tidos como os mais assassinos. Como uma cidade se despoja assim? Laura: "Já viste? Viva São Paulo, viva o Rio, que não se despem em tempo nenhum de suas gentes, essa Paris cemiterial, minha filha, só mesmo com muita farra é que se agüenta. Eu tu, me mandava para Amsterdam, quem não arrisca ... " - Mas Laura, lá não conheço vivalma. ~ Ora, e teu padre? - Ele mora em Deurne. - Sê tola, ele vem, vocês se metem num hotel, nin- guém nem sonha, pra que melhor? Ah, quem me dera ser tu! Os meus, bichinha, são muitos, certo, mas tudo ave de arribação - mordia a ponta da esferográfica, escre– vendo para a mãe, respondendo talvez a décima carta da mãe aflita e doida - incrível que nesse tempo todo eu não tenha tido um só francês, pensa bem, um só. Começo seriamente a acreditar que isto é algo de anormal, a fama deles ainda repousa nos dias da corte de Versalhes, galan– teria da época do Rei Sol, porque agora, só é fresco que dá, não são de nada, não os tolero. O ar debochadamente superior com que nos olham, não dão um sorriso que não venha enfumaçado de ironia, francês para mim é merda, merda pura. - Mas se não os conheces. - Nem quero. - Bastava-lhe a aparência. - Odiosos. E nem são altos nem bonitos. Se crêem donos do mundo, os maiorais. A França, minha filha, é um circo de quarta ordem. Macacos. Gente dura, sem alma. Por dinheiro, vendem a mãe. Vivam os meus italianos, os meus portu– gueses. Falar nisso, Mariângela devia entrar em contato com o grupo português, são uns amores. - Como podes julgar os franceses isto e aquilo, se mal convives com eles? Faz um curso intensivo na Sor– bonne, anda pelas ruas, ouve as pessoas. Para mim, são como toda gente. Não têm a nossa vida, não têm tempo a perder como nós. 72
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