CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
não lhe escreve uma linha. Noites solitárias do pai, no apartamento da Paula Freitas, só com a empregada, às vezes lhe vem uma pena, mas reage, não volto, não volto, ele não deu um passo em favor de Fausto. E quando regressar, terá sua vida à parte, "morarei com tia Dadan". E Fausto? Em dois anos, Peter estará esquecido, na Africa, esta dor já terá passado, ela casada com Fausto, é o mais_ provável, pensamento este que agora lhe faz mal, não me deter nisso, só quer é transpor os muros deste dia, dessas horas, o hoje terrível, o .vazio de hoje, irei ao Consulado? Irei à Aliança, a ver os planos para o Estágio de verão, por ora tudo em férias, os amigos estão fora, só a expec– tativa do Estágio, mas ainda faltam uns dez dias para que comece, como viver daqui até lá? Betsabete, Laura, o velho, Maria Loreto, mas esta não sabe de Peter, só Laura e Bete. Cheng em Bruxelas. E se fosse mesmo a Amster– dam? Ir atrás dele, aquele adeus desmanchado, acabou-se o "nunca mais", adiado pelo menos o "para sempre", o inexorável, adiado só por um tempinho. Ou mais valeria não se avistarem mais, aceitar o já consumado? - é a covardia , ante o sofrimento que a torna presa fácil de novas ilusões, enganar a quem? Peter nunca seria seu. Entretanto, é ele a quem amo. Tempo virá em que não o amarei desta forma, cansarei, virá mesmo esse tempo? Em que pensará em Peter na Africa como num amigo distante? Mas se ele ia morrer, se de qualquer forma estariam per– didos um para o outro, então por que não ir à Holanda, como Laura sugeria? Olhou o relógio de pulso - já estava num bar, pedirá um café, o estômago lhe doía, quase onze, daqui a pouco, o almoço na Aliança, para lá é que devo ir, lá é que é meu lugar, Laura não, essa dorme, não lhe tem nenhum amor, é de um egoísmo. "Você me vende esse pulôver, Laura?" - a amiga voltara de Londres carregada de coisas, roupas, jóias, fantasia, não era assim tão pobre como dizia: "Olha, nega, não vou mais poder pagar o quarto junto com você, ando numa lona." Sustentara o hindu. Jantares ao hindu. Condena– va-a por isso? Cada qual sabe o que lhe é mais valioso, só o que faltava, eu censurar Laura, eu de amores com um padre, eu que esqueci meu noivo, e sou dura para com meu pai já velho e sozinho naquela enormidade de apartamento, que noites seriam as dele ali, ela em França, pedindo renovação da bolsa, a princípio se enganava - é 71
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