CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

bem se via qúe era homem de oculto viver, rabo-;ntre-as– -pernas, esgueirando-se entre as sombras da noite, bacurau velho, que que tu me contas? "Pois o General De Gaulle disse - cochichava ele, olhando para os lados, ver um conspirador, na dimensão que dava àquela fofoquinha: Quero festas como nunca se viram. Que superem o que fizemos para a própria Rainha Elizabete - até parece que era um Pompidou, um assim do gabinete, ou um xereta governamental, bobo da corte - os fogos (ainda era De Gaulle quem falava), os fogos, isto será o máximo; para a rainha foi meia hora, para a Liberação quero uma hora de fogos, e caprichem, caprichem, algo de novo, algo que nunca se viu" - o polonês se assanhava: "Se Mademoi.– selle permite, eu a levarei, é perigoso, sabe, andar com qualquer um nesses dias. São três dias de bailes públicos, toda a cidade pega fogo, imprudente sair com qualquer um, eu sou um velho, me respeitam, eu a levarei a todas as festas." - Mas é provável que meu noivo vá chegar (possível que Fausto já estivesse em Paris, a essa altura, quem sabe?). " - Pois iremos os três, ainda será melhor, mostrar- -lhes-hei coisas que os turistas nem sequer desconfiam. Velho. Vivia de projetos. E de se esconder. A cabeça alva, alva lembrava seu pai, mais moreno, o pai militar reformado, não queria voltar para junto dele, como viver na mesma casa com homem de pensar tão outro? Desgosto dele quando ela fincou pé: "Quero ir-me embora." Profes– sora, não lhe foi difícil a bolsa. Desgosto do pai, viúvo recente, mãe de Ângela morrera de repente, nem bem fazia um ano: "Você me abandona sozinho neste apartamento enorme?" "Pai, não posso, o senhor me conhece, não posso, me perdoe." "É esse seu noivo inimigo da pátria - minha filha, você já imaginou que poderia estar órfã, de vez, se eles tivessem ganho? Você não considera isso?" "Não, pa– pai, não é isso, Deus me livre de perdê-lo, mas eu não posso. Que fez Fausto para andar foragido como um marginal? Só porque não pensa como o senhor? Isso é crime?" Conseguiu a bolsa - o próprio noivo a encorajou: "Vá, meu bem, eu seguirei logo que possa, viveremos lá, há de se dar um jeito." Depois, o prenderam, e ela nunca mais escreveu uma linha ao pai, nem mesmo quando esteve doente e teve de se operar, urgente, no Hospital 69