CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

de culpa que Laura exacerbava, gritando-lhe nas fuças, só por um deboche: "Um padre, hein? Olha aqui, nega, eu sou o cão, comigo é um por noite, mas não te:sho padre, não é por moralismo. Nada de remorsos, burra, te es– balda. No juizo fiinal, teu Deus te dirá: A ti muito foi perdoado porque muito amaste. A mim, com ligeira va– riante: Porque muito te esbaldaste, puta velha sofredora." Pesquisas no campo da moderna Pedagogia, uma ova. Pesquisas no Halles, nos Campos Elísios, no Feijoada, disso tudo um bom relatório eu faria. E de como ser reduzida à mais ínfima das putas por um indiano, em Londres, olha que tese. Vou dormir. Cochilar um bocadinho. Mas que remexido é esse? É Mariângela que já se levantou, toma banho, barulho d'água por detrás da cortina, uma sorte a banheira, antediluviana, mas que conforto representava em Paris, e poderem cozinhar no quarto, não, ela tem é muita sorte, e sou tão ruim para essa próxima, que até minha roupa lava. - Mariângela, onde que tu já vais? Rosto escaveirado da amiga, olhos congestos, pálpe– bras pesadas. "Tenho de ir à Gare do Norte, é agora que ele embarca." "Merda!, não é mesmo? - encara, olhos sonolentos, a outra: Mas escuta aqui, não me diz que tu vais com essa cara, olha, pega meus óculos ali em cima, pega, te digo, são maiores que os teus, tens de esconder essas olheiras, estás horrível. Voltas pra aqui depois?" "Não, Laura, tu precisas dormir, mesmo tenho a Aliança, devo ajudar meu professor nos planos para o estágio, não te importes, encherei o meu dia." / Laura mal a ouve, já tombou no sono. Ângela bate a porta devagar, Deus, já nove horas, um buraco no es– tômago lhe adverte que tomou nem um copo d'água, "mas devo sair já, ele ficou de ir cedo, conversaremos ainda um pouco, o quê? O quê, se já dissemos tudo? Mas devo sair antes que Bete chegue, me veja neste estado, me faça chorar com sua compaixão feita de ralhes e cruéis para– lelos": "Ah, Angelá, regarde un peu les autres, regarde– -moi!" - e se plantava diante dela, imensa, aos pés da cama, meu granadeiro, minha Bete, teu ombro, tuas mãos fedendo a água de javel, eu preciso delas segurando as minhas, me empresta um pouco da tua fortaleza: "Olha para mim, Angela, tu tens emprego, tens um pai militar, 60

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