CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
- E aceitaste, Laura?! - Angela, horrorizada, per– guntou. - E não havia de aceitar? - Mas tu, com tanta experiência, fôste com os dois para uma mansarda de quinto andar? És louca! - Tu irias, bichinha. Apaixonada, irias. Teu padre te pedisse, tu irias. Não foste com ele a Versalhes, não vol– taram essas tantas da noite? - Não compares, o Peter é uma criança, é ... - Bom, bom, não se comparam, está certo. Mas foste. O que está em causa é a nossa atitude de mulher apaixo– nada, que não raciocina, não mede nada. Eu o adorava. Eu o amo ainda. Aquele me marcou. Mesmo depois dos ultrajes, ele me aparecesse agora, nem sei, que felicidade. Nunca mais vou vê-lo, isto vai me roer até o fim dos meus dias. Vou passar o resto da minha mocidade tentando esquecer aquele homem, olhando esse retrato, imaginando o que ele estará fazendo, a quem estará enganando, a quem estará achincalhando, como me achincalhou. Pois haviam subido os três para o apartamento-água– -furtada do hindu. Lá, no primeiro drinque, ele, já noutro tom: - Então, apreciou mesmo o meu amigo? - Sim, mas por que essa insistência? Por que não haveria de gostar? Thomas, achegando-se a ela, uma luzinha diferente se acendia no fundo dos olhos verdes: "Então você não toparia ficar com ele esta noite?" - Laura! E tu, que respondeste, minha mana! Incrível, nesse minutinho, o que lhe acudira, no sus– piro de um segundo, fora a cena das três, no quarto do Bulevar de Vaugirard: "Neste quarto, você e Eliane me prevenindo, cuidado, Laura, lá não é Paris, é terra de monstros, de Jack o Estripador. Vi, num repente, toda a minha situação, num quinto andar de um edifício em Londres, só com dois tarados, Aida Cúri feito coroa, atirada lá em baixo - que desfecho para uma paulista quatro– centona, para toda essa busca, essa procura, que vingança, que forra que eu tirara dos homens - no fim, três linhas num jornal inglês, e em que seção de noticiário." - E que fizeste? que fizeste? - Mariângela se levan– t ou, está de pé, no meio do quarto, aquilo não é história que se possa ouvir deitada, um livro na mão. Porém Laura
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