CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

foi, meu bem?" Ele: "Não tenho dinheiro para pagar o jantar." Ela, pressurosa: "Pago eu, afinal isto não tem assim mais nenhuma importância entre nós." Thomas fez de resignado e, ainda meio sem jeito, acrescentou: "O pior é que convidei um amigo meu, o meu melhor amigo, queria que ele te conhecesse." "Não tem importância. Trouxe bastante dinheiro. Pago para nós três." Entraram, sentaram-se, veio o garçom, ele falou: "Es– peramos ainda alguém." Pediram um martíni, enquanto o amigo não chegava. Era um inglês, ares reservado, até simpático. Thomas fez as apresentações, e logo em seguida: "Um instantinho só, vou dar um telefonema." Ficaram os dois, Laura e o desconhecido. Falaram tri– vialidades, de Londres, do Brasil, e eie fez uma pergunta estranha: - Conhece o Thomas há quanto tempo? Me diga, sabe onde ele trabalha? O que ele faz? Claro que Laura guardou o segredo, entendeu que o amante escondia do outro a profissão de garçom, deu uma evasiva por resposta. Peitou-o, por sua vez: "Mas vocês, tão amigos, como ele o diz, e não sabem da vida um do outro?" ~ Sim, somos amigos, há algum tempo, mas Thomas nunca me disse onde nem em que trabalha. Pensei que você soubesse. E conversaram de outra coisa, ela já se espantava da demora, que telefonema comprido era um, o inglês não parecia admirado, e assim ficaram. Depois de uma hora, apareceu o hindu, desculpou-se, sentou, pediram mais um drinque. Ele se voltou para Laura, e lhe perguntou: "Então, que achou do meu amigo?" Ela naturalmente disse que o achara gentil, bem edu– cado, bem inglês. Jantaram, e volta e meia o hindu vira– va-se para ela, e repetia: "Mas você que achou mesmo do meu amigo? Gostou dele? De verdade?" Ao fim, depois da sobremesa, Thomas olhou para os dois e, após um último brinde, propôs: - Já que nos demos tão bem, e que você apreciou o meu amigo, não é uma pena nos separarmos agora? Por que não um derradeiro copo no meu apartamento, nós três, irmãmente? 54