CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
adulta: "Laura, você em Londres não caia na asneira de levar a vida que leva aqui. Lá não é Paris. ir: dureza." Angela: "É, minha nega, lá é terra de monstros, de Jack o Estripador, esses assim." Ela ria, o queixo pra cima: "Não se inquietem, primárias putinhas, a mamãe aqui joga é muito alto." Mas as advertências de Eliane não haviam sido uma desgraçada previsão? Laura não fora estripada por nenhum tarado, mas o que amargara, na– quela cidade, Mariângela, depois do embarque da amiga, conferia os dias. Ela havia dito: "Duas semanas, no máximo, estou de volta. Se com quinze dias não me virem, é que de lá me fui direto pra São Paulo." Três semanas, quatro. "É, Betsabete, parece que perdemos nossa hóspede." "Você, sim, perdeu, eu não. Pra mim é chance. Agora posso te arrumar o quarto, a doida já se foi. Angelá, não te servia. Ela e o cambojiano, na tua própria cama, é demais." Não era puritana, havia mesmo assistido, em tempos, a um partouze, mas, diabo, há coisas que não se fazem. - Partouze? Betsabete sentava na cama, então Mariângela nunca ouvira falar em partouzes? Mas isto é archiconnu, no Brasil não há? Casais que se reúnem em bacanal? "Ah, sim, mas Bete, isto a gente sabe assim por lenda." De repente Betsabete era uma nova pessoa - uma que vira partouzes. - Conta como foi isso, Bete - Mariângela, em curio– sidade desconforme. - Um amigo me levou, é divertido, isso foi há muito tempo - olhos de Bete vão longe, perdem-se através dos castanheiros do bulevar. O que de mais terrível vira nessa sessão, os pederastas. "Incrível, Angela." "Conta, Bete!" "Eles urravam!" Sim, Angela, já vi coisas, mas isso de trazer amantes para a cama dos amigos, sem uma fran– queza, isso não. Não é decente." Bete possuía lá sua moral. E seu amor ao filho. Nisso era grande: "Já vou, vou de– pressa preparar o jantar para o meu môme, ele só gosta do que eu faço." O môme tinha trinta e cinco anos e bebia como todo, bebia de cair. "Um dia lhe cravo um punhal no peito, é o meu caçula, Angelá, o meu caçula, o único que estudou mesmo, um voyou!" Mas sempre o amor in– terferindo: "Quando quer, quando não bebe, é a pérola da casa." O que ganhava mais dinheiro, tinha um cami- 42
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