CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

•. - Laura, estou te dizendo que é aqui, tem gente na porta do quarto! - Sê besta! Só se for fantasma. Sê tola, dorme é que é. Afinal, cessaram os baques. Angela readormeceu. Manhãzinha, ainda com escuro, levantou-se, a aula era às oito. Ao passar para o banheiro, aquilo branco no chão, debaixo da porta. Um papel, um bilhete. - Laura, olha aqui! A outra, lesa: "Quê que foi ainda?" Angela de pé, diante dela, o papel na mão: "O Fan– tasma deixou isto." Laura, num pulo, desvencilhou-se das cobertas, sen– tou-se na cama: "Me dá!" Acendeu a lâmpada de cabe– ceira e leu, já rilhando os dentes: "O pulha! O égua! Eu lhe disse, não me apareça, em hipótese alguma, lá não, ah, puto!" - Quem é? - Lê. Um sacaninha qualquer que mandei em frente. O bilhete em português: "EU bem sabia que isto não poderia durar. De qualquer forma, obrigado pelo amor de você." A lembrança do episódio, Angela sorri, essa Laura. Pesar de todas as bravatas, é uma menina, no fundo tudo é uma solidão, um medo de sofrer de novo, essas defesas. Ver uma adolescente, no intuito de chocar as gentes, que necessidade de dizer a Peter aquilo do trottoir. "Vingo-me dos homens, de todos eles, só assim vou recuperar meu equi– líbrio." Ela chegasse mais cedo hoje. Lhe pedi, é certo, ao sair, de manhã lhe pedira, a amiga ia se enrolando nos lençóis: "Vai com o teu Deus, bichinha." Angela parou na porta, era seu último dia com Peter: "Laura, queria te falar uma coisa. Tens programa para hoje?" "Não sei ainda, provável que não, ando estourada. Por quê?" "Se tu não saísses, isto me ajudaria." "Por que, minha flor?" "Eu preferia não ficar sozinha esta noite. O Peter vai embora amanhã, de vez." "Merda! - proferiu, duro, a outra - está ai o que foste arranjar, tivessem sido aman– tes, como recomendei, não estarias nessa miséria, algum proveito terias tirado (cínica, rindo), claro, ele deve ter é muito fogo guardado, um padre, já pensaste?, que burra! É (bocejava, estirava os braços), vou dar um jeito de vir 37

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