CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
diu-se: "Vou contigo." "E teu padre?" "Padre de Vries vai para casa agora, tenho a tarde livre, você vem conosco, Cheng?" Cheng, escravo, com todo o rancor à Laura, mas ainda fascinado, em parte por ela também, fez que sim. - Então tratemos de andar, que do Louvre, mesmo em câmara rapidíssima, só veremos bem pouco. Mas sem– pre terás uma idéia. Não foram. Ao chegar às Tulherias, em face à entrada principal, a grade fechada, diabo, hoje é terça-feira, como não nos lembramos? Sentaram-se na relva, exaustos, tinham vindo a pé, invenção de Laura. "Deixem-me pisar o mais que posso essas ruas, não sei quando voltarei aqui, nada de viajar subterrâneo, deixem-me olhar estas casas, essas gentes." Amava, então, a Paris que tanto denegria: "Cidade in– fernal, cemitério, os franceses estão mortos, mortos - que ela gritava, atirando-se, meio morta também, em cima da cama, manhãzinha, mal entrada das boates, dos cabarés - estão todos mortos, podres, e os que não estão mortos, são pederastas ou assassinos." - Laura, você volta por Paris. A gente sempre volta. Independe quase de nós. Mas o museu fechado. Cúmulo do azar. Seis meses em Paris, e só lhe viu a fachada, incrível. Agora aquilo lhe pesava (malbaratei meus dias? isso é que não, vivi, vivi). De começo, a cidade fora-lhe um desencanto, total: "Não sei, bichinha,. como tu gostas disto aqui, que homens de merda, estes franceses. Decepção." Sentados na relva, os três sem destino, perante o Louvre trancado. Laura fumando, mirando com raiva aquela cidade, os olhos apertados pela fumaça do cigarro, mordeu o lábio e, sacudindo o punho fechado na cara do maior museu da Europa, falou alto, com tremenda força e fúria: "Louvre, filho da puta!" E aos outros: "Me levem, me levem a um lugar qualquer, porra!" (Ai que lá se vinha a enxurrada de palavrões, quando soltava, ia longe). - Há o Grévin - lembrou Cheng. Mariângela, tarde perdida, estava por tudo: "Sim, o Grévin, sempre é bom, e tu não viste." Lá se foram, Angela que ali estivera por duas vezes, para não se cansar demais, sentou-se num canto, lendo. Pasiou-se, passou-se. De repente, o Cheng aflito: "Sua 34
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