CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

·rimdo, denegrindo-o, mas isso tudo lhe doía, e lhe dava um tal cansaço, ah, eu queria era que já fosse amanhã, d pois, depois, dormir, dormir. - Sem jantar? Era só o que faltava. O granadeiro pôs-se séria, rígida: "Vem comigo. Ao bistrô. Você precisa é de um bom copo de vinho e de uma sopa. Refresque essa cara inchada, passe um pente nessa moita, e vamos. Vou tirar o avental, me arrumar um bocadinho." Desceram o Bulevar de Vaugirard até o bistrô junto à ót ica. Sentaram-se, Bete comandando (Angela um au– tômato): "Levante a cabeça, não chame a atenção. E você precisa ter muito cuidado é com uma pessoa: Laura. É da sua terra, lembre-se disso. Pode desgraçar-lhe a repu– tação. Não tem o que perder, mulher livre, livre." Falar nisso, Angela sabia que Laura andava tarada pelo cam– bojiano?: "Você não tomar cuidado, eles te traem na tua própria cama, se é que já não o fizeram." Mas não, que coisa, nunca, isto Laura lhe prometeu, formal, no dia em que lhe pediu agasalho, nunca trazer os amigos ao hotel. - Mas, Angela - Bete vociferava baixo (a sopa fu– maçando entre as duas, vozes dos homens do quarteirão, rindo, falando alto, de pé, rente ao balcão) -, o erro foi ela vir morar com você. Para começar, seu quarto virou um chiqueiro, me dá um ódio quando entro ali para a limpeza. É uma doida. Se ela percebe o seu romance com o padre, aí é que lhe perde o respeito e lhe enche o quarto com a baderna. * * * Deitada sozinha, mais tarde, no largo leito (Laura só entraria de madrugada, ou mesmo de manhãzinha, quantas vezes não chegava quando ela já ia saindo para a Sor– bonne?), um cansaço infinito como que lhe tolhe toda e qualquer faculdade, mesmo a de sofrer. É um entorpecido desalento, a gente tem um limite para sofrer, passou daí, satura. Peter dormiria. Possível ele durma. Nunca o vira t ão desvairado, sua mão como tremia sobre os cabelos dela, quando lhe deu a bênção. Deus sabe que queria tudo dele, menos aquela bênção, não entende bem o que lhe 23