CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

/ I zentas pessoas." "Claro que não. Mas não estarei só. Terei meu dia tomado. As noites também. E nos fins de semana, excursões ao interior, às províncias de França. Repito, não estarei só, não se afliga." Mas a boca lhe tremia. Ele se repetia: preciso ir, preciso, é a hora (depois, se esse noivo aparece de repente? Covarde, eu? Sim, covarde, não tenho, não terei jamais a coragem de presenciar a alegria dos dois. Eu o intruso, o demais. E se ele não vier? As férias, o verão - ele e Angela nessa Paris povoada quase só de estrangeiros ... Mas vou, não tenho outro caminho). Na véspera do embarque, que dia! Ele foi à Aliança só apanhar o diploma. Saíram para o Luxemburgo, estava combinado que passariam o dia juntos. A manhã no jardim fazia-lhes um mal. O grito das crianças. Os namorados aos pares (esses não têm um amor condenado, nem avaliam a própria felicidade, podem mostrar-se assim, não têm por que esconder-se, separar-se). Manhã de uma claridade. Tudo isso lhes doía. Porém Mariângela afetava uma espécie de calma, um quase tranqüilo enfaramento. Então era assim? Assim?! Não passei de um Cirineu - e não foi isso que eu quis? não foi a que me propus? Por que pretender mais agora? Mas, e as ternuras, as frases? Mon petit amour de mon coeur, mentira? Mentira tudo aquilo? Almoçaram num bistrô, Rua da Huchette. Almoçaram mesmo? O cuscus de frango (pediu frango por causa dele, isto não lhe faz mal, não?). Saíram pela Rue du Chat qui Pêche. Ela sentia uma fascinação por essa ruazinha de nada, ainda se lembra do grito, quando a descobriu: "Mas Peter, é uma rua de romance!" Tinha desses entusiasmos meio delirantes (que o desconsertavam) por certo recantos de Paris, ora ora, a bem dizer tudo ali não é cenário de romance? Ele amava a cidade, certo. Mais agora, depois de Angela. Paris teria para ele outro significado. Suas descobertas. Aqui conheci o amor. Meu irmão: "Paris te tirará tuas cascas, todinhas." Porém de nada se acusa– va, real. Rico não é o que traz no peito um tal calor? Ela nunca mais poderá lamentá-lo: "Você não sabe o que perde." As vezes, quando falavam disso (raramente, pois ele o proibira), ela acrescentava, com fingida piedade; " ... Talvez você não possa. Sabe, é preciso uma espécie de eleição. Nem a todos isto é dado. Uma certa força 18

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