CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
l'eau, e só poderia ser em sua banheira. "Tu sabes, minha prenda, Paris está um horror, não tem quem agüente esta quentura, minha vizinha ontem teve uma coisa, o marido urrava acudam, acudam, é insolação," a história ia longe, Bete nas escusas. Angela interrompe com um beijo, "não, minha Bete, não te desculpes, vai mergulhar teu corpão na minha banheira que me importa? O que quero é que estejas aqui, que alegria rever-te, ainda bem que não te foste, ainda bem". Mas que quarto bem arrumado, e com flores, e maçãs, "Bete da minhalma, fizeste tudo isso para mim?" A outra disfarça a ternura em ralhos e dureza: "Sabes por que está tudo limpinho e arranjado? A outra se foi, a puta, a morenona." "Laura?! Laura foi embora? Não!" - Mas sim, que foi, graças que se foi, agora posso me ocupar de ti, do teu quarto, com aquela perdia todo o meu trabalho, imunda, arre, transformou isto aqui numa pocilga. Mas, me conta, não me diz que estás chorando! Tss, tss, tss! - não é por ela, não? (Choro por tudo, Bete, motivo é o que não falta.) Te explorou, não te pagava um centavo, te comia os doces, teu queijo, teu pão, fez amor com o chinesinho na tua cama, minha pobre de Cristo. De que choras, então! Laura havia azulado. (Mas não deixou nada, um bi– lhetinho?) Partira. Tinha partido assim como viera. - Se tu visses o horror de perfumes que comprou. Foi abarrotada. As jóias (fantasia, mas de qualidade), as coisas lindas que trouxe de Londres, os pull de iã, bara– tíssimos. Ainda lhe disse: Você não deixa um presentinho para Angela? Disfarçou, a garce, disfarçou e eu em cima: Angela queria muito te comprar esse pulôver cinzentinho. Ela respondeu: "É tudo encomenda, não é nada meu." Menos de meia libra, comprou dado. E ainda choras por ela? - Sim, choro, adeus Laura, adeus cantigas ao violão, "Bom dia, amigo, que a paz seja contigo", Laura, força de tua vingança, teus contrastes, num minuto, certo dia, nossos olhos se encontraram, vi que eras capaz de grande ternura, que aferrolhavas com fúria os melhores senti– mentos, teu torrão de açúcar, escondias de ti própria, amarga parecias, determinaras de ser dura, passar por cima de todos, não faz mal se fui um destes, se me usaste também, não me considero usurpada, não faz mal pelo .. 152
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