CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
irá proferir palavras que lhe doeram. As palavras. Ela então o queria para amante? Te analisa bem, me diz, mulher, agora, neste trem, perante esses desconhecidos– -comilões, por testemunhas, teu desejo é que ele fosse teu amante? Quando vieste de Paris, foi para isso? Juro que não. Então por que humilhada e confusa (embora disfar– çasses), quando ele te fez solene, a advertência: "Angela - olhos de Peter num minuto frios, frios, o azul suave virava aço - uma coisa fique certa: não devemos amar-nos total, nunca, isto eu não posso, e você me promete agora, que aceita esta condição, sem a qual não fico, vou ao médico, carrego a mala, me hospedo no convento. Eles nem sabem que vim, nem vão saber, depende de você." Seu amor-próprio lhe doeu, ao vivo: "Fique tranqüilo, não tenha receio, eu queria apenas vê-lo, não suportava mais aquela Paris vazia de você, depois do Estágio, um horror, os colegas todos dizendo adeus, senti que não ia mais agüentar, e vim, me perdoe (se faz humilde, sente-se deveras humilde, mínima e miserável), não me mande embora, sossegue, não pretendo mais que isto, estarmos juntos." Estão juntos, ele exaurido, a dor que não dá trégua, o café com leite que tomou há pouco já está lhe mal– tratando. - Sente~se muito mal?, abro as janelas todas?, quer ar? - Sim, faz calor, abra. Ela se levanta, abre a janela que dá para os telhados vizinhos, é um quarto dos fundos do hotel. "Respire, meu bem, respire, quer um comprimido?" "Não, é mais o can– saço, vai passar." Olhe - ela lhe diz, com pena e renúncia - vou deixá-lo sozinho, depois saímos, M. Van Mayer sabe de um lugar onde se come bem, perto daqui." "Não, não vá, fique comigo." Esse nunca que irá para a Africa, mas quando? Camerum?, onde é bem isso?, que espécie de vida?, quem cuidaria dele? O rapaz do banco fronteiro agora soltou a língua, encantando o pai e a mãe com suas histórias, parolagens. Num momento, pára e diz: ''Mademaiselle não conhece o holandês, vamos falar francês." - é um francês deficien– tísisimo, os pais não acompanham mais a conversa, abs– traem-se, mas sorriem sempre, e comem, gente risonha e comedeira, espantam-se de que ela não prove uma fruta, 142
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