CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
de esperar em homem tão impulsivo, fecha-lhe os olhos com um beijo suavíssimo, onde o rir enorme que abala as escadas, os passos que fazem estremecer o soalho, e lhe metiam medo na véspera, agora não mais, não tem mais medo, só o afasta, branda e firmemente: "Nós não vamos ver a cidade?, que coisas ia me mostrar?" Ele se recom– põe, a contragosto: "Prometido é devido. Vou sim." E já ansioso: "Mas por favor, esqueçamos as horas (isto porque ela consultava o relógio de pulso), bem sei, é quase meia– -noite, mas lembre-se, para nós a noite apenas começa, a será a única, você s.abe (como põe essa melancolia na voz, seu fingidor? Como me faz ciente de uma tristeza que também já é minha pela consciência do efêmero dessas horas - eu nunca mais vou ver você, Harry Van Mayer, mas, em nome de Deus, por que isto me pesa, me faz pena? .Que arapucas está você me armando com esses olhos cin– zentos e essa boca formosa, essa doçura quase insuportável? Então não sabe que amo um outro? Terá descoberto meu amor infeliz e condenado? Capaz de ser, adivinhou tudo. Mas não diz palavra sobre isso, do padre que vai chegar amanha). Só temos esta noite - noutro tom : vou lhe mostrar os canais iluminados, o centro, e depois (con– fidencial) vamos ver as ruas do amor, isto você nunca viu, não me diga que não está curiosa." "Sim, senhor Harry, Harry (como chamar senhor a quem já te beijou?), sim, vira no cinema, bairro de mulheres, que nem Pigalle (Fran– ca, Mima, nossas noites vasculhando Paris) - é uma espécie de Pigalle?" - É isso! É verdade, você mora em Paris, que lhe pode mostrar um pobre holandês que a interesse? Depois dos Lidos, dos Moulins-Rouges, dos Folies-Bergeres?" "Mas, meu senhor, não é essa a Paris que me agrada, certo, conheço, deve-se ver alguns desses lugares uma vez na vida. Por exemplo, nunca fui ao Folies-Bergeres." "Nun– ca'?, mas como?" - ele quase gritou. "Sou uma estudante. E Paris tem outras coisas, olhe, gosto mais é de ver as gentes, andar no meio do povo, descobrir cantinhos que ninguém, nenhum guia turístico recomendou.'' Ele entende: "Claro, claro ... " Angela sente que cresceu no seu con– ceito. Harry, sua cabeça trabalhando, a ruga na testa, que vou eu mostrar a ela, que "cantinhos especiais"?: "Você sabe, não temos nada assim, o que há aqui é muito trabalho, e nos sábados e domingos essa febre de se 118
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