CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
Padre de Vries se debatia naquilo feito fosse uma doença. Não quero estar apaixonado, não quero, não devo, não só não devo, mas não quero! Ela lhe perguntara, mansos olhos, nas vésperas da,. quela paixão: "Você nunca amou? Tenho-lhe uma pena. Você não sabe o que perde." Agora se debate naquilo. Como tudo foi uma traição. Ele sempre de atalaia, seguro de si, seus guardas. Senhor de seus propósitos. Nos começos a via chorar de solidão, e lhe trazia, cada manhã, ao longo da Rua de Fleurus, ou debaixo das árvores do Luxemburgo, a palavra de mel: "Não desespere. Por favor. Não. Como pode pensar que ele a esqueceu? Quem sabe o que acontece por lá, nessa hora? Não· se ponha nesse estado, vai ver, as cartas vão chegar, não demoram, vai ver. Confie." "É essa situação, eu não devia ter vindo, devia estar lá, com ele, ao lado dele, para o pior que fosse." E quando ela chegou junto de Peter, o rosto desfeito, com a confirmação de notícias terríveis sobre o noivo, aí seu peito lhe doeu. Porque isto eu sei, desde menino. Não consigo ver ninguém em desespero. Isto é a minha fraqueza. Ou minha força. Meu irmão afirma que é uma debilidade, que nisso sou diverso dos outros homens - no fundo, em cada um deles, existe, ainda que bem disfarçada, a secreta e diabólica alegria de ver uma mulher gemer por nós. Porque agora, essa moça, não era cego que não visse, agora, causa de sua mágoa era ele. E dizer que só quis foi ajudá-la, fazer de Cirineu, como tudo é resvalante, os sentimentos, é um terrível oscilar, o pre– cipício. Neste momento, ela nem sabe, mas de nós dois, Angela é a mais forte. Pelo seu poder de sofrer. Por esta minha incapacidade de sabê-la sofrendo, contra istQ eu nada posso. Até onde me levará esta compaixão? Agora 9
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