CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

todo mundo no trabalho, hoje devem divertir-se, está bem?" - Mas Madame ... - Harry interrompe: "Justamen– te eu queria mostrar-lhe um pouco da cidade, os bairros curiosos, ela não viu nada." "Verei amanhã, com meu amigo." "Com o padre? - ele ri, ri com vontade, a mu– lher também, e o outro homem - um padre, com a senhorita por aqueles bairros?" (Mas que bairros, já nem se atreve a perguntar, vão rir dela outra vez, sua burra inocência, terrível não se saber da vida de outros povos.) "Não, Mademoiselle - é Harry ainda quem fala, entre sério e trocista - a senhorita não vai querer pedir a seu amigo religioso que a leve a ver o quarteirão das. . . pu– tains." Ah, é isso (vira no cinema, mulheres na vitrine, feito brinquedos raros), isso que ele vai lhe mostrar. Está curiosa, claro, tem de aceitar a chance, agora ou nunca, sê tola, que que tu perdes, mas o homem pretenderá dela o quê? Não sou nenhuma criança, alegre já reage, treme um pouco, interiormente, finge uma sugestão, receando que a outra aceite: "Madame vem também, tomará um pouco de ar, está pálida, é destas luzes, essa fumaça, esse ruge-ruge." Tem de dizer isto, é o mínimo que a polidez e mesmo uma certa humanidade lhe exigem. "Ah, não - que a senhora diz, derreada - estou doida é pela minha cama (mas então larga-lhe o marido, entrega-lho assim, por uma noite, que gente é essa?)." Já saem, despedem-se do outro senhor, Angela dá um "obrigada" à orquestra, tomam o carro, vão a Keisersgracht deixar Madame. Angela sobe, arranja-se um pouco, encompridando os minutos, para quê? Para que a mulher não a julgue ansiosa de ficar só com o seu marido, protela o momento em que se verão os dois, por aquelas ruas, sozinhos. Peter, por que você não veio hoje, e me deixa à mercê desse homem - mentira, está mentindo, Peter tem culpa de nada, eu é quem estou querendo, ele estivesse aqui eu não teria olhos para nenhum outro, nem sairia com Harry, mas ainda agora, mesmo sem Peter, posso recusar, devia recusar, e não o faço, estou botando batom, me perfu– mando de novo, e é para ele, quero ir com ele ver a rua de mulheres, essa cidade, temo um pouco, mas quero, tenho pena da mulher que fica, mas é uma fraca pena. Mais forte, muito mais, é meu desejo de ir com o homem, 116

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