CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
com tantos, no Estágio, nenhum a marcara, que é isto agora? Pois estava certa de que, se abrisse a porta, a pretexto de um: "Olhe, prefiro que me traga o café aqui" - não lhe cairia nos braços, não se afogaria no verde- -cinza daqueles olhos? Entretanto, jamais - é preciso que isto se esclareça, ela se perscruta, minucia bem, tanto quanto lhe permite a turbação deste momento, jamais desejou conscientemente essa voragem, nem com Peter. A não ser talvez, ainda adolescente, com um professor de Física - um moreno, de olhos pretos. Ela sentava bem na frente, na classe, em face dele, e os olhos dele (como era mesmo o nome desse professor? Krugger? Kauffer, era um nome estran– geiro) se fixavam no seu busto e, através da combinação de cambraia (ainda não usava sutiã), ele adivinhava seus seios pequenos e livres, saltinhos, seus olhos se afirmavam ali, a bem dizer a aula toda (salvo quando ia ao quadro, ex– plicar fórmulas), como a freira não via, e as meninas não reparavam que não era para ela, mas para seus seios que ele olhava? A não ser esse, jamais alguém a entontecera desta sorte (deixava o busto ereto, afastava os braços, os seios empinados e livres hipnotizavam o professor moreno, dei– xava-se ficar, experimentava quase uma vertigem - e nunca trocaram uma palavra, além das aulas, nunca). Pois agora isto lhe vinha, essa tontura, nas palavras do homem, cochichadas quase, através da porta: "Quer que eu traga o café, prefere?, os pãezinhos estão quentes" - quente era a voz dele, ardente o fogo de seus olhos. Um estranho até a véspera, e em dois, três dias, no máximo, estarei longe dele para nunca mais, como pode ser? Veste-se, escolhe um bom conjunto, o tailleur azul claro, gola de pele, a bolsa café combinando com os sapatos, desce. A sala de jantar tranqüila, a principio não vê nin– guém, só a mesa posta, onde os outros hóspedes? Mas a voz da senhora: "Good rrwrning, Miss .. ." - olha-a, ali está a grávida esposa, sentada num canto detrás do pe– queno balcão do bar, ao fundo da sala, fazendo o quê?, descascando batatas, um cesto cheio, vai descascar tudo aquilo? Ele vem lá de detrás, da cozinha, decerto, trazendo a bandeja como um troféu, quanta coisa: ovos, bacon, torradas, biscoitos. Nas garrafas térmicas, chá, café, cho– colate, há quanto tempo ninguém a cumulava assim - verdade que é um hotel, mas o desvelo com que fazia tudo 10'7
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