CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).
pensamento de Angela é sempre misturado ao de Peter. Ainda lhe beijarei os cabelos? Teria essa coragem, chegar até lá, como uma amante qualquer atrás do seu homem? Pois teve. E foi, e chamou-o, ele veio, houve mais outro episódio nesse amor de novela. E nem coincidiu com a consulta à junta médica, nada. Ela chegou, foi para um hotel, telefonou-lhe tremendo, ah mas isso não se conta assim, vamos devagar, M. Frank, devagar. * * * Agora estão na estrada, a caminho de Breda. Sim senhor, M . Frank, quem diria, hein? Ele falava, falava, memorando, contente, o derradeiro dia do Estágio, o co– quetel no hall da Aliança, o Secretário-Geral que lhes fez a conferência última. "Mas repara, é um viking" - cochicha– va Mima. Enorme, louro, paternal-irônico, belo homem, o conferencista, pena só lhes aparecesse no último dia - "me diz, não é um viking?", insistia a iugoslava. "Sim, sim - Angela respondia distraída, o sentido noutra coisa - mas eu devo descobrir M. Frank nesse ruge-ruge, pre– ciso, preciso!" As amigas, seu grupo, erguiam as taças: "À nossa amizade." A italiana tinha os olhos molhados, e a voz demudada que tentava encobrir por detrás dos gracejos. Adeus, Francesca, adeus Mima, Paulina, adeus Mariá. Fa– ziam-lhe mal as despedidas, mais por julgar fossem todas amizades sem nenhum porvir, então a gente reparte sua vida com três, quatro criaturas, durante quarenta e cinco dias, e depois adeusinho, passe bem, e acabou-se? Por~m seu desgosto não era tão intenso quanto desejaria que o fosse, e tanto quanto fingia - estava um pouco sobre a cena, ela também, exagerava uma compunção não de todo verdadeira. Pois o pesar de lhes dizer adeus se misturava à doida alegria dessa viagem, dia seguinte de manhã, a Amsterdam. Viagem que faziam agora os três: M. Frank, ela e um moço, amigo do holandês, ela nunca o vira, e dele guar– daria curiosa lembrança: não parou uma só vez, o dia inteiro, para ir ao toilette. Os três, Angela em frente com M. Frank, que a cumulava de agrados, tantos quanto lhe permitia sua fria polidez. Não a deixou pagar o almoço, 99
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