CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

do-se mutuamente, naquela exaltação, um pensava: Esses se estraçalham e é já. Daí a dois minutos estavam nos abraços, na risadaria. Alguns comentavam: "Olha só, têm a herança do teatro no sangue, estão toda vida no palco, reparem." E ela? não vivia num palco, iludindo a todos? Com Peter, quando choraram juntos, foi sincera. E com Bete. Está aí alguém verdadeiro, alguém que bradava seu pensar para que todos escutassem. Mas mesmo Bete, para sobreviver, não dava o seu bom dia respeitoso à patroa, mulher que a explorava, quando gostaria era de berrar-lhe nas fuças suas queixas, atirar-lhe na cara os seus muitos amantes, cadê que podia? Desabafava no quarto. Talvez a mais real fosse Laura que confessava publicamente seus amores de acaso, e proclamava para quem quisesse ouvir: "Que que tem dormir com homem, se isso me agrada, a mim e a ele?" Ela dormiria com Peter, ele lhe pedisse? - dormirias? anda, confessa, desce ao fundo de ti mesma, tira os encapados todos, descasca-te, ele te chamasse, não irias voando? "Devo ir a Amsterdam para uma consulta aos médicos, esta decisiva, a fim de poder embarcar para a África; que eles digam que não morro já, que não estou por dias, que não tenho os intestinos em chagas, e posso viver, como toda gente", mas quando iria, quando? -- Hava, naguila hava, naguila hava - cantava o ônibus em peso (tenho de saber quando ele estará lá, se fosse precisamente no fim do Estágio, quando M. Frank voltasse para sua terra, a prometida carona). Voltou-se, onde M. Frank? "Que procuras?" - perguntou Franca. "O holandês." "O teu bigode de cenoura? Vem no outro ônibus, sossega, almoçaremos tod03 juntos." (Vou para perto dele, não devo largar esse holanda, impossível que eu não veja mais o Peter neste mundo). Mas que fariam em Amsterdam? Ele viria? Claro que só por causa dela não, tudo teria de coincidir, apanhá-lo ali, chegar de surpresa, quando ele fosse à consulta. Chegavam a Epernay, desciam, agrupavam-se ao pé de M. Lanson, para o programa imediato, a prefeitura. Mais champanhe, mais discursos, e logo percorrer adegas, e ainda champanhe, depois museus, igrejas, até o almoço. de tarde, o vinho já teria posto abaixo as friezas, eram íntimos, os olhos dos homens luziam, as moças riam, riam. Interessante observar o roteiro dessa euforia, desde a pri– meira_Jaça de champanhe até a volta, à noitinha. Mas 98

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