LOBATO, Manuel. Bodas de ouro. Manáos: Freitas, 1909. 137 p.
16 BODAS DE OURO -Quer qll'e a acompanhe? - Se não lhe é incornmodo ... Já se faz escú- ro e tenho receio de ir só. / - Então, espere que 'já vou descer. Benoit não reparou para os seus trajos de tra– balho, nem cuidou de mais nada: desceu e acom– . panhou a menina Clara, sentindo-se naquelle momento mais orgulhoso e mais feliz do que um r·e1. As sombras envolviam tudo. ·E as· folhas que antes se erguiam faceiras á conquista da luz so– lar, pendiam, agora, a~ormecidas, satisfeitas e plenas. Os dois caminharam lado a lado, por alguns momentos, sem trocar impressões. Clara arre– pendia-se de ter falado demais e accusava-!3e de leviandade; Benoit, por seu turno, sentiflrSe tão feliz, tinha tanta coisa a dizer, que não sabia como externar os f-eus pensamentos. Acontece isso muitas vezes: duas pessoas li– gadas por qualquer corrente de affecto, que as identifique, ernquanto distantes, preparam ~on– versas inferessantes, discreteam sobre varios as– sumptos com facilidade. Mal, porém, se reunem, divagam sobre tudo, e raramente tocam em qual– quer cousa daquellas que mais lhes afoguearam a imaginaç.ão . · E por isso não houve ainda esse que, convi– vendo cqm a causa primeira das suas preocGu– pações no mundo, tivesse já traduzido em pala-
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