LOBATO, Manuel. Bodas de ouro. Manáos: Freitas, 1909. 137 p.

106 BODAS DE OURO Não amava Paulo, isso ainda não, mas a sua sympathia por elle havia crescido. E então, quando o viu andar, muito pallido, quasi transparente, conduzido pelo seu braço de enfermeira e reflectiu que toda aque.lla des– truição havia sido causada por si, ficou immen– samente inclinada á mais sincera gratidão. Dei:x:ou que os tempos corressem, pois não queria offerecer _em troca de amôr tão puro, apenas um movimento, talvez ligeiro, de -com– - paixão. Era pecessario, queria-o ella, que lhe pudesse dizer que algum affecto tambem sentia por elle, affecto que pudesse merecer uma appellidação mais significativa do que a de simples amizade fraternal. .. _ Sob os cuidados de Adelia, Paulo melhorava dia a dia, esqueéido dos seus proprios pezares. Ás vezes, chegava mesmo a conceber a idéa de que não estava longe o dia de seu enlace matrimonial com aquella doce creatura. Mas, apezar de tudo, esc1uivava-se de dizer os seus pens~mentos, para não afugentar a companhia de Adelia. E depois de decorridos mais dois mezes, quando lisonjeiro era o estado de saude de Paulo, já era a menina quem anciava por que. lhe fa– lasse elle de àmôr. . -Dar-se-á caso, pensava ella, que Paulo, com a doença se tenha curado da affeição que

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