Batuques de Belém

rocô, ainda terá que fazer três meses de dieta em sua residência à base de orações e comidas insôssas . COROAÇÃO - As primeiras horas da noite do dia 7, Raimundo deverá deixar a Camarinha e, acobertado por uma mortalha ficará dormindo no centro do ter– reiro de Ogum Megê das Almas, acordando antes de do nascer do sol para resgressar à camarinha . No dia seguinte, às 21 horas, ele deixará nova· mente a camarinha dirigindo-se ao centro do terreiro onde será coroado filho-de-santo de Ogum e Nanã Boro· cô pelo chefe do terreiro na presença de suas filhas-de· santo. Após a coroação de Raimundo Valter da Silva ao som de atabaques começam as cerimônias em homena– gem à Nossa Senhora da Conceição, naquele terreiro da travessa da Vileta" . O BABALORIXÃ RAIMUNDO SILVA Raimundo Silva, considerado o maior pai-de-ter– reiro do Pará. nasceu em Belém, a 3 de maio do ano de 1894 . É caboclo, dos cabelos lisos e grisalhos, estatura mediana e face pálida. Diz que .iá trouxe do berço o dom especial e a voca– ção para se dedicar ao culto afro-brasileiro, mas que foi na Bahia, no ano de 1912, que se fez pai-de-santo. Na– quele ano, ao chegar à capital baiana, foi levado ao ter– reiro CASA DE XANGô, na Estrada do Rio Vermelho, pertencente a IALORIXÃ Dona Andreza, ali passando quinze dias e quinze noites encerrado no peji, tomando chá mate e comendo carne fresca cozida e sem sal. Ao fim dos quinze dias deram-lhe um banho de ervas e dançou no terreiro . Ao término da cerimônia perdeu a noção das coisas e quando acordou estava com um diadema característico e todo enfeitado de colares . Dona Andreza, com voz grossa, chamou-o e lhe dis- se: "Pode regressar ao Pará e botar o seu terreiro" . Assim foi dito e assim foi feito. Raimundo Silva pegou um navio e voltou ao Pará. Chegando a Belém começou a " trabalhar" e quan· do já havia reunido dez filhas-de-santo, abriu o seu ter· reiro . Fora das atividades mediúnicas, foi marítimo, agen– te de polícia e vendedor de ervas cheirosas, no Ver-o– Pêso . -17-