Batuques de Belém
; portão de um terreiro, procuraram ridicularizar o cul– to e as negras que dançavam. Ainda há poucos dias soubemos que uma funcioná– ria pública, residente próximo a um candomblé, reti– ra-se de sua moradia, para a casa de um irmão, onde passa a noite, todas as vezes que se realizam festas nesse terreiro . Disse-nos ela que tem um terror enorme dessa prá– tica religiosa, e que não quer ouvir nem o bater dos tambores, pois lhe causam grande mal-estar. É interessãnte frisar esse fato, pois há pessoas que sentem verdadeira atração pelo baque dos couros . não resistindo à tentação de apreciar, nem que seja por algumas horas, a dança moviment ada das filhas– de-santo, num terreiro todo enfeitado de bandeirinhas alvi-rubras. Realmente o atabaque é a alma da festa nos ter– reiros, e sem ele, diz Edison Carneiro, ela "perde 90% do seu valor". "O atabaque (ou tabaque, tambor, ilu, couro, igono, etc . ) antes de ser usado é preparado, a fim de adqui– rir o encanto de que é dotado, tornando-se um instru– mento sagrado" . (Pedro Tupinambá, in "Mosaico Fol– clórico", pág . 16) . O tambor, no batuque, não é um mero instru– mento destinado a acompanhar as danças, e que pudes– se ser substituído por outro qualquer . Ele tem um papel preponderante na função, e múltiplas são as suas finalidades . Além de animar a coreogr afia do candomblé, dar-lhe intensidade, graça o calor, é ele que invoca e faz descer os orixás, trazendo-os para junto dos homens, através dos cavalos do santo, pois esse é o motivo precípuo da festa . É o atabaque, tam– bém chamado ilu, que saúda os órgãos e aclama aquelas divindades . Nos batuques de Belém usam-se comumente os a tabaques de tamanho médio e pequeno, denominados rumpi e lé, e sua percussão é feita com as mãos. Em Belém costuma chamar-se de tambor aos can – domblés (pr ocesso de denominação do todo p e 1a parte) , possivelmente pelo caráter predominante e mágico que ele desempenha nos cultos afro-brasileiros. Os batuques de Belém inspiraram a Bruno de Menezes, grande folclorista paraense falecido em 1963, a poesia que transcrevemos abaixo , e que figura em seu livr o "BATUQUE": -11--
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