As Duas Américas segunda edição ampliada da obra O Descobrimento do Brazil que o auctor publicou em 1896 no Pará. Em homenagem ao quarto centenário do descobrimento do Brazil Candido Costa; illustrações Antonio Ramalho
I 238 CANDlDO COSTA que os Pottugueses, ao que se suppunha , mandavam surrateiramente caravelas ao descobrimento: ~ra ~om referencia a estas allegações do Portugueses-de terras nos mares d'Africa-que o rei trata,·a da convenieocia de se emendar a bulla. « S abeis di sso mais que todo (escrevia elle a Colombo), dizei, pois , se é preciso emendar a buli a ». Tratava-se, pois, de terras que ficassem na di stanci a de cem leguas dos Açore s ou de_Cabo Verde. Poderá tambem concluir-se que ainda que se di ssesse, e ge ra l– mente se acreditasse, que as novas terras pertenciam á Indi a, o r ei de Hespahha admittia a possibilidade de que ellas não fossem senão dependencias d'Africa. Não eram os Portuguese tJ aquelle tempo ma ru– jos inferiores aos Hespanhoes , nem creio que o rei de H_espanha fo sse mais illustrado que, o de Portugal; comtudo, segundo affirma André de Rezende , em um trecho citado pelo illustre auctor da Memoria , D. João II sentiu-se das descobertas de Colombo pel as suppôr feita s dentro dos mares e termos de seus senhorios de Guiné ( 1 l . E ss e ao menos era o pretexto. Não me cançarei , comt~do, em formar conjecturas, acerca d a explicação que deve ter este documento, porque a hi storia se enca r– regou de a pôr fora de duvida. Eis o facto : Colombo, cujos offerecimentos recusados por P ortuga l h aviam fin almente sido acceitos por Castell a , conseguiu realizar o seu p rojecto;, e descoberta a America, viu-se na sua volta obrigado por circumstancias a entrar . no Tejo. . Teve isto logar a 6 de març0 de 1493 . Alvoroçaram-se os P ortugueses, e D. João II , desej ando ouvir a Col ombo, mandou-o chamar, «o que elle fez de boa vontade (escre– veu João de Barros ( 2 ) , não tanto por aprazer a el-rei , quanto po r o m agoar com a sua vista» . Colombo, possuído de enthusiasmo pelas scenas do novo mundo , como no-lo revelam seus escriptos, poderia não ter-se reprimido de ainda mais engrandecer e exalt~r o merito da sua descob_erta ! 3l na pratica que t eve como rei, comprehendendo que desta forma se vingava (') Cl11·onica dos valerosos e insignesfeitos d 'EI-Rei D. João II, cap . 1 65. Ruy de Pina diz lambem na sua Chronica d 'El-Rei D. João li, (cap. 66): «E,sendo el-rei logo disso avisado (da chegada de ColomboJ ho mandnu ic antes de si, e mostrou por isso receber nojo e sentiment o- a.ssi por crer que o dito d~cobri– mento era feito dentro dos mares e_ termos. de seu senhorio de Guiaée, em. que se. offcccciadc.fcn.s.á_o . . .etc:.». l neditos da Historia Portugue 1a , t. 2, pag. 178. ' (') L. 3, cap. 11 , pag. 56, da ed. cit. (') Ruy de Pin a- Ob. e log . cit. : «o dito alm irante que . . . no recontamento de suas c0usas, excedia sempre os termos da verdade, fez esta cousa em ouro, prata e r,iquezas muito maior do que era .. .
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