As Duas Américas segunda edição ampliada da obra O Descobrimento do Brazil que o auctor publicou em 1896 no Pará. Em homenagem ao quarto centenário do descobrimento do Brazil Candido Costa; illustrações Antonio Ramalho

AS DUAS AMERICAS 235 tive sse idéas vagas de algum mundo que podesse estar pe~di?o na vastidão até então inexplorada do oceano; porque nas prox1m1dad:s dos arandes phenomeno da nature za s~nte-se uma como revelaçao intim~, um rumor vago que presagia o acontecimento futuro: taes são os indícios de tempestades nos países intertropicaes e os ameaço_s de erupções vulcanicas. Ha tambem exemplos ana~ogos nos aconteci– mentos humanos, ou se os não ha , a no sa credulidade ao menos faz que os tomemos por Yerdades. . Não quero , pois, negar todo o credito a um facto , que os -ant1_go traduziram em rifão, chamando-o a 110{ de Deus, porque de ordma– rio se realizam os seus progno ricos , ou do diabo, porque vem não se sabe d ' onde. O que é certo é que , dada a existencia de um acon– tecimeHto de alguma importancia , podemos ter a certeza de que um e !nuitos servos de Deus o revelaram em extasis beatificas , na presença de todo o mundo! Assim é que depois de Colombo appareceram o roteiro de Affonso Sapches , os mappas de Orontius e os conhecimentos ante-diluviaiios do Brazil. Se porém tal recusa foi filha de calculo, á vista do resultado guc teve, podemos aquilata-lo de bem desgraçado; mas, antes disso, vem a pêlo perguntar-qual o motiy o por que o rei de Portugal, recusando a Colombo o fraco auxilio, que este lhe pedia, tentou, sem a sua intervenção, realizar o projectado descobrimento?! Esta hypothese não é admissivel quando consideramos que não ha razão alguma para suppôr que Colombo tinha sido mais bem concei– tuado em Portugal, que rejeitou os seus serviço 0 s , do que na Hespanha onde, antes que elles fossem acceitos, os homens prudentes e sensatos se riam do forasteiro, quasi mendigo, que promettia aos reis glorio– sos de Aragão e Castella montões de ouro, que deslumbrassem a Europa. Nesse tempo D. João II não teria melhor opinião do que teve o grande historiador, o Tito Livio p0rtuguês.-João de Barros, annos depois do .descobrimento da America, recordando a proposta de Colombo e o modo. por que ella .fôra encarada pel-0 rei e pelos cos'mographos portul51:1eses, ~i-lo em palavras de que se exclue toda a idéa de calculo , ou mfluencia de motivos occultos. Eis o que elle escreveu (iJ : (<El-rei porque via ser este Christovam Colom homem falador e glorioso em mostrar suas habilidades, e mais phantastico e de imaginações com a sua ilha Cypango, que certo (') Barros - Decadas da Asia, Lisboa , 1628, Ih·. 3. ~, Cllp . 11 , íl. 56 ,·. •

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