Penna, D. S. Ferreira. A ilha de Marajó: relatório apresentado ao Exm° Snr. Dr. Francisco Maria Corrêa de Sá e Benevides. Pará: Typographia do Diário do Gram Pará, 1875. 81 p.
46 A ILHÁ DE MAIIAJÓ:. neralidade que tem o furto, porque, , si em muitas fazen<fas , as invernadas tem dizimado o gado, em outras não tem sido tamanho o prejuizo, e si ha fazendeiros que tem foito espor- ação de gado vaceum femenino em quantidade superior ás suas- . forças, tambem outros ha que não tem tanto abusado, e ain- da outros que não tem feito exportação algnma. - · Accresce a isto que o furto affecta ao gado proprio pana a reproducção, não só p_or ser este de ordinario o mais nutrido– e não offerecer tamanha resistencia ao ladrão, como tambem porque furta-se para criar I Para que o furto de gado em Marajó tenha logar do- modo e com a demasia com que alli o praticam, é preciso que se 3êem causas mui poderosas e de cara~ter, permanente, que o tornem temido para todos a ponto de oconsiderarem um mal sem remedio,-mal que tanto deprecia um genero de bens. abundante _de va;itagens que em poucos outros se encontram. · E' opinião entre os mais distinctos fazendeiros, e opinião bem fundada, que furta-se, principalmente porque o ladrão de gado encontra toda a facilidade para -commetter este crime; elle furta do mesmo modo que praticaria um acto licito. O vaqueiro, percorrendo os campos á cavallo, assim comC> JJÓde estar em serviço do dono da fazenda, tambem póde o es– tar prejudicando, roubando-lhe o gado. Tanto n'esta como em 1odas as mais hypotheses de furto de gado, o ladrão tem a seu favor a quasi certeza da impunidade, quando menos, pel difficuldade da prova do crime. O furto de gado tem ainda outra circumslancia que o fa– vorece: é ser de natureza tai que aproveita a muitos e é claro qµe todos aquelles a quem elle aproveita, por conveniencia propria occultam tanto a existencia do crime, como os seus. autores. . , _ Concorre igualmente para que o furto se não desarraigue' da ilha a ambição .do fazendeiro, para quem não ha m-eio dº, tam prompto augmento como o furto do gado em larga es– cala. P;ira que melhor se avalie a exactidão d'este enunciado, .é preciso ter em vista que a moralidade em Marajó tem eles. cido tanto que ella já se não conta como elemento das relações sociaes, quer de vi~inho ir visinho, quer de senhores e patrões com seás famulos e escravos. Até aqui tenho fallado quasi sómente a ·respeito do furto· commettido por vaqueiros, feitores &, passando agora a r~ ferir-me aos fazendeiros a que já toca o paragr;ipho antece– dente, o que vou dizer ha de ser entendido nos devidos ter– mos, isto é, na generalidade; respeitando as excepções, em– bora bem poucas, que sou o,primeiro o reconhecer e venerar. Um distincto e abastado fazendeiro de Marajó que sempre
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