A Estrela do Norte 1869
,,., ~--- --~-----~------,-·----,,. ... ·, 70 1 ESTRELI \ ·no NPRTE. sim ilhante assumpto ; é falso que de qual - quer dos lados houvesse affeição. - Emqnanto á dama Ignez, atalhou Fu vius, tenho as melhores probabilidades par assim a accreditar, e vosso respeitavel pae mais de uma vez me animou a proseguir no ·meu desígnio; asseverando-me que sua pri- ma l~e confiára o segredo de se u amor para comigo. -Bem sei que o meu qu erido pae, labo– rava em um erro, a tal respeito; mas eu , a quem aquella querida j oven nada occul ta- va ..... - Excepto a sua r eligião, interrompeu Fulvius com ironia. - Basta! continuou Fabiola; essas pala– vras são blasphemias em vossos lobios - sei perfeitamente que para ella ereis apenas ob– j ecto de horror e enfado . - E' verdade ; mas só depois do que lhe dissestes a meu favor. Desde o dia em que primeiro nos vimos, tornastes- vos a minha mais arden te inimiga, colligada com aquell e official, traidor ao seu soberano, que ainda ha pouco recebeu a r ecompensa que merecia, e a quem talvez houvesseis destinado para o Jogar que eu desej ava (guadai a vossa indig– nação, senhora, porque haveis de auvi1'-me até ao fim), - exaltastes os meus sentimen– tos, o forçaste- me a ser algoz d'aquella que amava. - Amor l exclamou a indiguada. seuhora; ai nda mesmo que tudo quanto acabastes de dizer não fosse inteiramente falso, que amor podereis vós sentir por ella? Como saberz'ús apreciar a sua rara intclligencia, innocencia, e can<l.ura? Talvez como o lobo admira a gen– tilleza da rez mansa, que se dispõe a devo– rar, ou como o abutre mima pomba incauta que vai sacrificar á sua rapina? Não! ... era ó a sua riqueza, e a nobreza de sua fami lia, a que aspfr avcis, eu li isso mesmo no brilho <lo vosso olhar, quando primeiro o fitastes :obre clla, com n expressao de uma fera que l'ncara a sua victima. -E' fal so ! redarguiu Fulvius ; se cu tives– se obtido o que desej ava, se me tivessem attendido , veriam.que me tornaria digno de ella, e que seria tão affectuoso, tão amigo como ..... - Como aquelle, accudiu Fabiola , que, offcrecendo a sua mão, apresenta a despoti– ca alternativa de achar-se prompto, dentro cm tres horas, a desposar ou assassinar o ob– jecto da sua affeição. E, como a primeira proposiçiio. náo é acceila, cumpre a sua pala– \"l'a e comeUe o assassinato. ]de-vos da mi– nha presença; vós irnpestais até o proprio ar. - Deixar-vos-hei quando houver cumpri– do a minha missão, e ficareis de certo pouco satisfeita, quando assim o ti ver feito. De ca– so pensado, e sem que a isso vos provocasse, deprimistes e des trui stes em mim todos os sentimentos de honra, arrancastes-me de ganhar urna posição honrosa, na sociedade e da felicidada domestica que me estava desti– nada . Era já bastante. E depois de assim ha– verdes praticado , trabalhando para que me despresassem, como espia; (o que sabieis por have r surprehendido a minha conversa– ção) esta manhã , esquecr.ndo todo o decoro devido ao vosso sexo, aprensentastes-vos no Forum, para completar em publico o que a occultas haví eis começado, -excitar contra mim aquelle tribunal, e com ell e o impera– dor. Injustamente provocastes ogrito popular de vingança, que, se não fosse um sentimen– to mais nobre do qu e o medo, me fazia sah ir, e correr, como um lobo perseguido, até pas– sar a mais proxima barreira. - Eu te affirmo Fulvio, que á medida que te a[astares d' esta malvada cidade, augmen– tará n 'ella a virt ude . De novo vos intimo , que não continueis a perturbar o socego des– ta casa; ide- vos ou pedirei irnmedi atamente socorro contra tal viol encia. - Ainda não nos separamos , senhora, disse Fulvio cujo gesto se foi pouco o pouco tornando ameaçador cobrindo-se de uma pallidez mortal. Agarrou-a rudemente por um braço, e obrigou-a a sen_tar-se_. Escutae , accresscntou elle, não tenteis sahir , ou cha– mar a\-uem; porque o vosso _primeiro grilo seria o ultimo , ainda que eu tivesse de p~r– der a vida. Tornastes-me um reprobo , odia– do de todaa sociedaderomana; um proscrip– ~o; um vagabundo sem amigos, n ' uma t_er_ra rnhospita ; não vos basta acaso para saL~sfa– zcrdes a ~ossa vingança? Não ! . . . mnda I • quereis roubar-me o meu ouro, a riqueza que de direito me pertence, embora ganha com ignomínia; a tranquillidade , a reputa– çfto, os meios de viver, i udo me haveis rou- bado a miu{pobre es trangeiro. . . - Malvado insolente! exclamou rnd1gna– da a dama romana , esquecendo o perigo, pagareis cara a vossa temeridade . 0usacs, na minha:propriacasa, dizer que vos roubei? .. .. -Ouso; e sou eu qu e vos digo qu e hoje o vosso dia de expiação, e não o rn eu. Ga– nhei, ainda que pelo c~im~ (com que nada v?s deve im rtar):o qumhao quem~ pcrt~n– ci~, na rique confiscada a vossa prim~. _Era o fructo de fa i()'as do corpo, e do espmto; de noites de i sºonia luctando com os pbun– tasmas dos 01 s reI~orsos; e mais ainda com um ~ivente p ior do que cll es; de dias s~c– cess1vos de traballio insano para descobrir a verdade, suffocando O fasto do orgulho as dô– rcs pungentes d'alma. Não me dará tudo isto • •
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