A Estrela do Norte 1869

• 66 A EST ELLA DO NORTE. o agreste valle no fundo do qual se l vanta o castello de Augerville, residencia d Ber– ryer. A medida que se iam descortin a do as torres e os telhados do antigo alcaçar o sol ,·escondia e as cores severas e melan li cas de uma manhã. de outono lançavam u cre– pe de lucto pelas cercanias. que queriamos dar aos leitores, do logar eminente que occupava Berryer entreas su– midades deste seculo , e nos excitam a v_dos. a amar com maior ardor o que aquelle grm..– de homem tanto amou : a patria, a monar– chi a, a Igreja! · O s onho tle Heleun. Uma multidão immensa vinda dos castel– los e cidades vi sinhas abriam em si lencio alas ao longo do caminho. Estavam ali fi– dalgos d'antiga linhagem, a cujos nomes se Era Helena uma boa meninaquetrabalha– ligam as lrmbranças mais gloriosas ela his- va assiduamente para ajudar sua mãi a sus– toria da monarchia; velhos encanecidos nas tentar uma fami lia numorosa e composta de luctas e nas dignidades da vida pu blica; crianças ainda em tenra idade . Devemos jovens cheios de seiva vindo r etemperar o comtudo confessar que algumas vezes, sen- seu ardor no grande espectaculo de urna dôr tia- se inclinada a murmurar um pouquinho nacional justamente merecida, operarias e pela extrema pobreza em que vivi am, e fre– agri cultores, unindo os trabalhos da indus- quentes vezes ell a p ensava comsigo mesmo tria aos trabalhos do campo ; todas as con- que era duro, que por ser ella a mais velha <li ções ali estavam confundidas, im~e rn lhe coubesse em partilha quasi todo o traba- das forças vivas da França . lho da casa . Academia francesa, clero, corpo d'advo- Um dia sua mãi lhe disse: eia de França e de es trangeiros , deputados e - Helena,. minha filha, amanhã has de antigos representantes, os artistas tão ama- acordar antes de amanhecer o dia, pois eu te– dos de Berryer, a imprensa, o gruppo nu- nho es ta semana uma quantidade extraor– rneroso dos clientes , emfim , os pobres, os dinaria de roupa para lavar, e se não me aju– amigos previ legiados do illustre finado, es- dares , não poder ei acaba-la a tempo. tavam dignamente representados n'aquella - Mas mamãi, estamos ainda na quarta– funebre ceremonia, e todos s'inclinavam, feira , respondeu Helena, e nunca precisais pungidos da mesma-dor, o r edor do phere- , cab ar a lavagem antes do sabbado. tro coberto de flor es, e coroado, por toda in- - A fam ilia cuja roupa preciso acabar de signia, da t oga de lã, do capuz de arminho 1 ,ar vai para o campo na ::;exLa-feira, e por– e do modesto barrête de ad vogado. tanto tenho de lhe mandar a roupa na quin- Ah ! de certo ifóra mister não ter nem o ta- fe ira á ta rde . Por isso é que preciso que sentimento da veneração , nem o en thusias- me áj ndes, pois são bons freguezes e não que– mo do bello e do grande, nem a consciencia roperdc-los, o qu e de certo eu merecer ia que da honra e da fé , para ficar in sensível ante me acontecesse se fosse negligente em cum- tan ta g randeza , manifes tada por tanta sim- prir ~li as orden~. . plicidade ! Por isso todos os corações se con - Hel na não disse mais nada, mas pensou !'rangiam e todos os olhos se arrasavam de comsi mesma : lagrimas. . -Ot moninos daquell a casa são r icos e Depois de uma Missa fun e? re na lgT~J~ de fe li zes ·1vivcm commodamente , tem criados Auge rvill e , edificada pela piedade re!1g~osa para o rvirem e tudo quanto podem dese– de :t3errycr , o Bispo_ d 'Or}J:lans , seu rn,hmo j ar ne a vida ; emquanto eu preciso tra– ami g_o , com a v?z_a{og~d~ em p ra~tos, deu balhar oite e dia para poder ter uma miga– a ultima absolv1çao . h ntao no me10 de gc- lh a de üo. Ató mesmomeus irmãosinhose ral sil enc~o fo i o ~orpo ,depos~tado no h ur:nil- frmãs assam me lhor do que cu, porque el– de carn ei ro contiguo a lgreJa . Es te ultuno les ao menos podem dormir quanto quize– momento foi solemne, e qu ando ~ su~re~1a rem, e quanto eu sou ob rigada a me le– oração, entrecortada de s~luços, fo i rec1tad~ vanta r inda escuro, o tremendo de fr io , houve por todo aquelle immenso concurso ! uito a tes de ter com um bom somno, re– um pro fundo estremecimento de magua, pa ado o corpo cansado pelas fadi gas de um sentindo cada um mais vivamen te que nunca di< !ntei de pesado serviço. o vasio que se fez entre as glorias da França. A f\J-ã e Helena bem percebeu o en fado A , 1mltidão se a'.astou silenciosa e tris- de sua, . 1a poréi_n n_ão qui z mostrar que O , te, dando ell a propr~a e levand? un; exemplo tinha 1 o do, pois tinha t od~ a certeza de , da h?nra que é devida ao gemo, a lealdade que ellc' epressa s~ arrepend ia do seu múo e á fe. humor· tinha razao de pensar ass im poi Est~s ultimas porm~nores que extrahi!n?s, depois '<1 1 ter res~do as suas ora2ões O m~ ll10r abreviando-os da Umon, completam a 1dca, que lhe poss1vel, Helena metteu-se em

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0