A Estrela do Norte 1869

i6 A ESTRELLA DO NORTE. neve, gêlo ou saraiva, etc. Dir-vos-ha ainda que agua vardadeiramente pura não se a encontra a não ser no gabinete do sabia, mas que as aguas das fontes, dos rios, absorvem saes, rochas, gazes ; encerram por conseguinte sal ordinario, sulfato de cal, cal~– ria, etc., em uma palavra tudo o que é.soluvel sob;1,e a terra. Isto vae -se tornando mais interessante para m . Pois, não pretendendo escrever aqui um livro sob\ 1 o uso da agua na agricultura e mil fotmas da indu• tria, .que são questões infelizmente por demilis n ·, gligenciadas em nosso paiz, vamos falla: d'agua so ' o respeito da hygiene. t::m difinitiva a agua se bebe principalmente entre nós, onde o sol·não poupa seu ardentes raios. Absorve um homem nas condiçõ medias ao menos dous litros d'agua por dia e quan tidade inferior causaria soffrimento physico. Cone be-se, portanto, o muito que inOuir devem sobre corpo as diversas substancias dissolvidas, ainda en fraca proporção, n'cssa agua. Nãq basta dispor d dous litros d'agua por dia; senão que é mister seja csla agua sã e de boa qualidade. A' acção das aguas tem attribuido a opinião de to– das as idades certas molestias accidentaes ou indemi– cas ; e se exagerada tem sido por vezes esta opinião, nem por isso deixa de ser certó o serem algumas aguas nocivas e perigosas. Pela mesma razão as que contém princípios bons, por exemplo, saes favora– veis á economia e aos desenvolvimentos do organis– mo, ou productos gazosos proprios a facilitar o tra– balho da digestão, tornam-se, por quotidiano uso, um agente hygienico precioso, seguro e racional. As aguas doces ( ainda não se tomou o costu tne de matar a sêde com agua do mar) podem <li vidir-se em aguas de chuva, aguas de tanques, agl'as de po– ços ou cisternas, aguas de rios e aguas do fonte. Ló A agua de chuva, no momento em que é apa– nhada, não é de uma pureza absoluta; todavia é a agua mais pura da natureza. Tem o deffeito de não conter em dissolução bastante ar, nem materias cal– careas, de não ~er nutritiva, e emfim de ser insulsa e adocicada ao paladar. 2: 0 As aguas de tanques, quasi sempre carregadas de materias organicas que as corrompem, jo!Ierecem um desagradavel odor que as faz banir da alimenta– ção. Muitíssimas vezes tambem adquirem ellas qua– lidades nocivas que são causas de diarrhcas, dysen– terias e outras molestias agudas ou chronicas, de que Deos nos livre t não fallando de insectos e reptis my– croscopicos que se arri scam a engulir, com grave detrimento da saude, os que bebem essas aguas es– tagnantes. Eis uma historia que vem bom de molde ao que es tamos dizendo : « Eu conheci, diz um auctor, ccrt? mancebo cam– ponez mui robusto e vigoroso, mas impr udente, que uma {,ez no es tio, abaixado e fi rmado nas mãos á guisa dos animaes, bebia com avidez cm certo re– gato de aguas lamacentas e pouco corredias. Ao aca– bar de beber, sentiu como um fio que lhe passava na garganta ; fez cxforço para. lançal-o e não conse– guiu ; com quo alguns mczos depois entrou a sentir no estomago pequenas picadas e como uma cousa que o devo r_ava.. ~omeço u a ?efinhar ; consultou a medi cas e c1rurg10cs da terra, tomaram-no uns por doen te imaginario, outros acreditaram nos padeci– mentos, e lhe deram remed ios e mais remedias por 1's1iaço de dous ou tres annos, ~empro, porém, de– balde, o só achava o doen te descanso quando bebia mu ito leite. . ,, Tornára-se magro, mirrado e todo desfeito, quan– do lho ordenaram, por quinze dias, aguas cuj o mi– ncral lé um vitriolo ferrugi noso, e a cada banho uma onça do sal de Sedlitz para tomar. Purgaram-no perfeitamente as aguas e no septimo dia lhe fizeram lançar uma • obra preta, de cabeça chata, o quasi meio pé do comprido. Teve tanto asco o nosso cam– ponez, que quasi desmaiou ; mas d'esse dia em dian– •e passou com optima saude. " Isto confirma o mal que dizíamos das aguas esta- gnadas. . . _ · os verdadeiros reservatorios de aguas potaveis sao pois osirios, ·as fontes e osjpoços ou :cisternas; mul di!Ierente é, porém, a composição das aguas ahi en– cerradas e vamos procurar a qual d'entre ellas se deve dar a preferencia. Pode uma agua ser considerada como sã e de boa qualidade quando é fresca, limpida, sem odor; quan– do não se turva com a ebulição; quando é muilo fra– co·o resíduo que abandona pela evaporação; quando seu sabor agradavel e doce não é nem insulso, nem salôbro; quando ella dissolve bem o sabão, quando cose bem os legumes. As aguas de poço ou cisternas, usadas nas terras onde faltam rios e fontes, algumas vezes até nas ci– dades, não satisfazem á estas exigencias, porque as aguas pluviaes que ali se ajunctam, arrastam com– sigo para a cisterna substancias organicas e mine– raes; verdade é que estas materias ~e precipitam e que a agua se purifica per um repouso de alguns. dias; geralmente, porém, torna a alterar-se, pela de– composição das matcrias estranhas que se apoderam do oxigenio ·e tornam ~ agua sem sabor, desagrada– vel, senão perigosa. As aguas dos rios, quando circ11mstancias exterio– tes não as vem perturbar, só encerram tenucs quan– ,tidades do chloruros, de sulfatos, de carbonatos, e ão então proprias á beber. Mas é mister acaute– i r-se contra as circumstancias exteriores, como a 1 ·inhança de uma cidade, que muitas vezes em tal so não passa o rio de um immenso esgôto. Aagua de fonte e dos poços de fonte é pois indu- , l:) 1 avelmente a melhor. Dizia outr'ora Hippocrates : A melhores aguas sao quentes no invernoe fi•ias no estio. Po l\esta sentença do pai da medicina, p0sta em vi– ga~ em nossos dias, se deve regular a escolha d'uma ag potavel. Nada com elleito ó preferí vel á essas ag~ limpidas e frias tiradas de fontes puras, abri– gadl á sombra de copadas arvores. se elJas foram arejl as na sua viagem para a superficic do globo, se te dissolvido no caminho que percorreram pe– quov quantidades de carbonato de cal, oITerccem ao es mago um '.liguido benefl co, fresco, .delicio- so e poderosamente contribue para a saude do w~~ . - Agora que agna nos será dada? E o que nao po- demos · er ao certo. Esperamos que serà boa, o que nossos l \tores, satisfeitos da frescura e boas quali– dades d <i, não serão mais forçados a recorrer aos conhecim ~ tos que tem da:chimica para estudar-lhe as proprie ;tdes e analysar-lhe o valor. Todos os nossos vot pois, se concentram na prompta reali– sação desta ~a: que fosejamos não se faça por demais espe r. ' Em verda e refli,ctamos agora um pouco. Não é melhor escre~er soblí'e agua potavel, do que alagar– se n'uma enchorrada immunda de descomposturas ? Pa.ra terminar poremo,q aqui duas anccdotas,gra- ciosas. · · A primeira passou-se, ha pouco, na rua dos Caval– leiros. Uma menina de 4 annos acabava de restabelecer- o de uma doença·. - Deves agr~~\ecer muito a Nossa Senhora, minha filha, foi ella , te curou, diz-lho o pai. -l?oi, papai . . -Foi, minha llha: ella rezou por.ti , e Ocos te deu a saude. •: - !ih I então, papai, quando ella calür doen te, cu tambem heide rezar por ella 1 Pergun tando o actual Snr. Bispo de Goyaz a utn rapaz do Alto Amazonas a quem ensinava o catecis– mo, quantos eram os inimigos d:i alma : -São trez respondeu elle: DiaLo, carne e ôsso. .E~te era dhro i.le roer, poró!Il o mestre, aliás itra– v1ss1mo, não pouõe conter o rrno, e tudo ficou msto. ~RÁ-Typ. t EsTRELLA DO_ ORTE-186~~

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