A Estrela do Norte 1869

A ESTRELLA DO NORTE. a Miriam, a quem cheia de contentamento Q communicou. Nunca se senli~a tão orgu– lhozn de possuir os seus mais ricos vesti– dos, como se sentia com o simples vestido branco, que recebera ao sahir do baptismo, e que dévia conservar por oito dias. Mas o pae misericordioso sabe misturar as nossas 11 Je,rria~ com as nossas magoas. e so nos faz :Se~tir estas ultimas <l &pois de nos haver dis– pos lo o ani1110 pi:ira ella-;. Trocando o terno a.braço de que já falia– mos, pela primeira vez notou Fabiolaquanto ora oppressa e penoza a respiração de sua irmã. Grande foi a sua inquietação, e logo man– dou pedir a Dioni1,io ·que viesse no dia se– guinte a sua casa. N'aquel!a tarde todas celebrarum a festa da Paschoa; e Fabiola '?entia-se feliz por sen– tar-se á meza ao lado de Miriam, em com– panh 'a dos seus escravos que se haviam con– vertido, e dos servos de lgnez 'que conserva– va em sua casa, Nunca tivera uma ceia tão <!i.legre. No dia seguinte, de manhã cedo , Miriam chamou Fabiola para junto de si, e com um lom de intima ternura, como nunca lhe fal– lará, lhe di sse: -Minha querida irmã, que tencionaes fa~ zc r depoi s de cu vos ter deixado? -Entáo tencionas deixar-me '/ perguntou FaLiola sufl'ocadaem pranto. Es pera va que vi viriamos sempre juntas, como duas irm.i.s. :\tas se desejas deixar Roma , eu posso acom– panhar- te, para me dedicar a ti, e serYir-te. l\liriam sorriu tristemente; uma lagrima de resignação lhe deslisou pela face; e to"T mando a mão da sua amiga apontou-lhe para o céo; Fabiola comprehendeo-a, e exclamou: - Oh! não, não, querida irmã. Pede ao Senhor , que nada te recusa , que me não pri– Ye de ti . Bem sei que é egoismo da minha parte; mas que farei eu sem ti ? E agora, que me ensinaram j á, quanto aquelles que morrera,n por Christo podem fazer, intercedendo por nós, rogarei a lgnez e a.Sebas tião, que procurem desviar de mim tão grande calamidade. Has-de me lhorar : e!:itou certa que não se aggravará o teu estado; a mudança para uma estação mais amena, e 0 acrradavcl clima de Campania hão-deres– tab~lecer-te. Sentar-nos-hemosjuntas, nas bcllas tardes da primavera, 1t convcrsaremog sobre um assumpto rm~is int~ressante para nos do que u minha atit1ga ph!loso~hia. '1iriam abanou a cabeça, nao triste, mas 11legremente, e replicou=. . _ -Não to illudas, qul'rida irma, Ocos quiz eonsorvar-me a vida, só para que cu \'isse Mtc feliz dia . Mas a sua mão, que até agora me susteve a vida agora me entrega á morte. e eu a espero com alegria. Bem sei quanto• dias me restam de vida. -Oh I que não seja tão breve; soluçon Fabiola. -Não será emquanlo conservares o ten vestido branco, querida irmã. Sei que toma– rás luto por mim; e não quereria roubar-te um minuto, sequee do tempo cm que deve, usar essa côr de ·innocencia. Dionisio ch egou, e achou grande differen– ça no estado da doente, que havia já alguns dias não visitava. Acontecera o que havia 'receiado. A pomo aguda da adaga resvalara no osso, e tinha oifen d ido a pleura; e a phtysica segui o-se, como cofüiequencia. Confirmou, pois, as antecipações de Miri– am._Fabiola foi orar sobre a sepultura de lgnez, para que o Senhor lhe desse resigna– ção: por muito tempo orou com fervor cho– rando, e voUou depois para casa. Irmã, diR– se ella a Miriam, com firmeza, faça-se a von– tade do Senhor, estou promp,ta ,a ceder-lhe tudo, até a que eu tanto estimo. Agora dize– me, que deverei fazer, depois de me haveres deixado? Mi riam fitou os olhos no céo, e respondeu: -De::;cancou o meu corpo aos pés' de lg– nez, e lu fic a para velares junto de nós, e para lhe rogarPs por mim; até á. chegada de um estrangeiro , que vid do Oriente, e será por– tador de boas no\'as. No dornin iro seguinte . Domúáca in albú Dionisio celebro? , com licença especial, 08 sagrados myster1os no quarto de Miriam e admi~is_trou-lhc a sagrada communhão, pa'ra seu v1atwo . Esta celebração particular, como nos di– zem Sancto Agostinho, e outros não era um privil egio raro. ' Ungia-a depois , coni os sanctos olcos, acompanhan do este acto, com uma oração ; e es te é o ultimo sacramento que a Igrej a con fere. . Fabio la, e todos os ~eus ser,·os que preseu– mavam este~ myster10, solem11es, choran– do? e orando,_ des~~ram então á crypta , e de– pois ?~ offi?10 d1vrno vo ltaram para junto de Mmam, Já sem os Yes tidos brancos. -E' chegada a hora, ditise c~ tn tomando a mão de Fabiola. Perdoa-me se' fa ltei aoa meus deveres para comtigo, e ao Lorn exem– plo que te devia. Isto era mais do que l<'abiola podia sup– portar, e ajoelhando rompcq n'uma torren– te ~e lagrimas. Mit·iam procurol:l socegal- a. e disse-lhe: -Chega-me a.os labios, quando eujá não puder fallar, o signal da redempção; e vóe,

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