A Estrela do Norte 1863
18 A ES'I'RI!íLLA DO KOR'l1E. nos perigosos, prenderam os carabi– neiros, junto ao pa1acio papal, um velho coberto de poeira e meio roto, o qual foi incontinente conduzido ao escriptorio da policia. - Eu não sou urn ladrão, disse; cha– mo.me Guidi ; chego de Fano para ver o nosso Santo Padre, o Papa; não me mettam em prisão notes de o ter visto; depois farão o que for de seu gosto, porque não terei mais n::i. da a <lesejar em minha pobre vida. Peço-lhes, pois, meus caros senhMes, vão dizer a Pio IX que o velho Gui– di deseja ve[-o. Em outra parte este homem seria tomado por um insensato, e condu– zido imrnediatarnent.e á casa das ora– tes ou ao menos ao aljube. Em Ro– ma, pelo contrario, os carabineiros procuram meios de satisfazer ao seu desejo, e lhe obteern a venturosa dita de ser a<lrnittido á audiencia publica do Santo Padre. Em seu semblante, pallido e abatido pelas fadigas de uma longa jornada transparecia urna profunda emoção ; suas debeis per– nas tremiam debaixo de um corpo cur. vado por oitenta invernos. Ao chegar na antecamaraas forças lhe trahiram (l, opprimido tal vez de varias emoçõe~ que o agitavam, cahiu sem sentiuos aos pés dos prelados e dos ofilciaes pontificios, que o transpo rtaram a uma sala visinlrn. Advertido do que lle passava, Pio IX, não querendo privar o po– bre aldeão do favor que tinha em tanto apreço, ordenou que lhefo8seelle apresentado apenas estivesse em es– tado de poder comparecer. A 's 4 horas Guidi é adrnitt.ido em presen– sa de Sua Santidade. O al<leU.o começou : _ - Ha muitíssimos annos a esta par– te, uma nobre e grande familia dos Estados Romanos se transportárn, corno de costume; em principias de Outubro, a uma bella quinta que possuía a seis milhas de SinigAglia. Tinha o chefe desta familia um gra– cios.o menininho ruu_i .vivo e alegre, ch·1 mado J oão. Travou est.a criança amizade cnm uiu aldeüo de vinte annos criado da casa, o qual com carinho se prnstava a todos os folguedos delle. Um dia,passeandoambosatravés do, campos, correndo após uma borboleta, ou detendo-se a colher :flores, para– n1m á margem de um lago pequeno, mas profundo e cheio de agua esta– gnada. Algnns peixes verm.elhos na– davam á ílordo lago: o menino os ve, e, diverLindo-se com as alegres voltas q-ue faziam, qner pegnl-os com suas rnft:>sinhas. .B.chega-se manso e man– so dri. margem, e já está a ponto de a<Yarral-os quando su bito falta-lhe d~baixo d~s pés o terreno amollecido, escorreO'a, baldeia-se na ag □ a e desap– parece.i:,l\fas por felicirlade velavam sobre elle a Providencia e o aldeão. Este não hesita um instante, e, sem cuidar no perigo, lança-se vestido ao lnO'O mergulha duas vezes; aferra b > - 1 do •nenino e recondul~o sao e sa1vo souie a pnrgem. Este menino ereis vós. - O aldeão? - Era eu. - Não esqueci este acontecimen- to. V6s vos chamais ? -- Guidi. - E' verdade I abaixo de Deos, é a -Que quereis, J~edisse oPapade– pois de o ter levantado de seus pés, que elle cobria de beijos e banhava de Iagrimas; que quereis, meu ami– go? - Contar-vos uma historia. vós que devo a vida e o throno. Q11ero e devo recompensar-vos. Que pedis? _ Nada para mim, Santissimo P~.. dre, porque de prest:nte sou o ma1~ rico aldeão de vossos Estados; tornei a ver o pequeno João, achei-o gran– de Papa; eu sou feliz. O bom Pio, commovido até as Ia~ _ Fallai, gue vos escuto.
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