A Estrela do Norte 1863

, A_ ES'I'RELLA DO NORTE. 149 ·'================================= - Que me vou confe:r:ir depois desta · menina, - Valeu, disse o outro n. rir-se. - Um j:rntnr no Cnfú de Pa.ris. -EsLá dilo. Proposta e accit:i. a. aposta. puzeram-se á espera. . Qunn<lo a rapariga, grave e recolhida sahin d_o confossi_onario, o nosso espirit~ forte foi sem hes1tnr occupar O luo-ar que :,: n1pariga tinha deixado. 0 Ora. eis aq1:i o que se passou: . O falso penitente, depois de lia.ver re– c1t11do em voz alta, por ordem expressa do_ co?fessor, o Symbolo dos Apostolos (rl1ffic1lmente se esq1,1ece O C[tlr> l • • se aprcn- < e':1 na rnfancia), foi c01widado por este ultimo a começar :i. sua. confissão. Devemos nq_ní, declarar que O facto ~ue _n~s referimos é da mais rigoros:i. cxnct1dao. ~~ joelhos e com o riso nos labíos eis \. aqu! Oi termos em que se exprimiu o falso pe111te11te: - Eu não tenho adorado senão a Deos .. m:ui zombo disso. Tenho jurado o santo nome de Deos ... mas zombo disso. T enho receado _contra o sexto mandamento .. mas z?mb~ disso. Kr,o Santifico Domingos nem <lias Santos ... mas zombo disso. Deode minha primeira communhao nunc:i mais me a.pproximei do Sacramento da Penitencia nem do da Eucharistia ... mas zombo disso. . O_ padre não o_havi~ interrompido; uma msp1raçáo repenlma tmha illuminado o es– pírito <lo homem de Deos, e a toler:mcia Christü. ·tinha. concebido o engenhoso pen· sarnento de combater .a zombadora impie– dade com as suas proprias arm n..s. Quando, pois, o aerisorio peni tente nca· bou, o Confcs!=<or, tomando então a paliwra, exprimiu-se do modo seguint e : - Abstenho-mede stigma.tisar como me– rece a ímpia. e sacrílega acção que aca– bais de praticar; estai s muito abaftdonadd · Ja graça de Deos para. p_ocle~dcs ouvir com fruto o qne 'cu pot1ena. dizer-vos. M:as em troco da indulgencia. com que na eston disposto n. perdoar-vos, o que Y6s . de certo não considerais senão como uma caçoada, e que é a.os olhos da R eligiií.o um gra.ve Sacrilegio, exigirei ela vossa. parte um acto de complacencia. O nosso pretendido liberlino, apczar de t udo, conhecia. bastante a lei das conve- nien cia,;;. para, ao menos apreciar a incon– vcniencia de qne se tinha. tornado cul– pado. Envergonhado j:í. por ]1aTer d:ido um passo , cm que nú.o vira mais do que uma .·olemne caçoada, cuja vergonha s6 rec."lhia nelle, e 'desejoso de rep:úar tanto quanto fosse possivel esta incm:1Yenieucia immcdiatamente respondeu: ' - Qmil é .esse acto que exigis de mim senhor? ' ' - Ha.Ycis de me promctter, replicou o Co_nfessor, r1ue ajoelhareis todas as noites, e isto por espaço de quinze dias an tes de ,oz deitarcles, e direis em voz :ilta: " S ei que devo morrer ... ..mas zombo disso. " E ' a unica. Yinganç11. que cu quero tirar de v6s ; mas não é pequena. · O pretendido libertino, 'lne pro,a.,el• mente não comprehendcn o-c;enfü1o occultº do Padre e não lhe deu senão o de que o Padre tambem queria caçoar com ell e para se· Yingar de o haver mettido a ri– diculo, aceitou com a melhor vontade o que elle não considerava. senão como uma espiritnosa reprezai ia; fez sem r1iffi cnl'dade a promessa que lhe tinha sido pcdid:i. e sabiu do confc~sionario depois de h[l ,rer pedido militas descnlpas ao Confessor. Não tinham decorrido aincb os quinze dias e já o Santo Confessor contaYa. um penitente de mais debaixo de sna pi edosa direcção. E sse 110,0 penitente era na.da .– menos do que o nosso sceptico heróe. Esta subita conversão operou-se do se– guinte modo : O nosso joven libertino, fic1 pelo menos :í. sua palavra, todas a.~ noite0, :intes, de se deitar, súsinho, no silencio do seu qnarto rlizia em nlta voz :i fúrma cxpi:1.loria '. A prirneirn v ez cumprin o preceito ; com a mais mundana indifferença, pôde dizer :· " Sei que hei-~e morrer, r omo teria dito: ,ou amanh5. ao thentro. " No seguinte dia. fêl-o mais gra,·cmcnte. Xo t erceiro ,i á. não' pôde deixar de fazer algnmn refl exGes : a; morte é uma cousa tão sombria I No quarto preocupou-o muito a inexora.,el lei qne pesa sobre todos os homens, e perguntou :i. si mesmo o que nos espera; al ém do tumnlo. N" o quinto, depois de ter dito como das outms ,·czes : " Sei que h ei de morrer " já senão :Ltrevcu a accrcsccn tar: mas zorn ho disso. _N" o sex to, depois de ter prnnunciado a ternvel sentença, exclamou, batendo 110

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