A Estrela do Norte 1863

A l'.. TI\ELL\ DO NOflTE. 125 iwt l if'-#lS-Z-i • rer, meu Padre, meu amigo, ma~ Deos me dará rnnform idade ..., . Vós não me haYeis de abandonar, não é assim? O bom Pad r e p rometteu-lhe .de não 9 dei– xar e cumpriu <'O ITI a sua palavra. De– pois que o doente commungou, o Padre vendo-o mais socegado, disse-lhe que Deos pod ia dar-lhe vida. Oh ! Deos o qneira, diz o uoutor com enternecimen– to·; Deos m'a dê para a minha pobre mãi e para a minha inferiz mulher . .. e pa– ra o meu filho. -Recolheu-se depois e accrcsccn tou. 1\Ieu Deos I meu Deos ! en– trego-me á vossa santa vontade 1 Havia cm rerlor delle assistentes que estavam mu ito commovi dos, o doente voltou-se para cll ·s dizendo-lhes: meus amigos, não ha hypocr isia dict11tc da mor– te, vou mon er, lembrai-rns das ultimas palavras d um rn ori btrndo : o Cal11olico qu e não onsa praticar a sua r eligião é um covar d ! o Parocho poz-se a rezar. Oh! como a oraçüo refrigera ! ·uisse o doente. n1eus amigos, ora i, oh I orai. Depois informou os seus collegas, que vinham p r·cstar-lllc os soccorros da sua arte e dar-lhe provas. de sua amizad e, sobre o estado dos seus doentes, para que ellcs não fo ssem victimas de sua ausen– cia e da sua desgraça. Fallava-lhe~ amiudadas vezes de Deos, da necessidade da religião, e sempre com uma lucidez de espirito, com uma vi– veza de fé que os deixava na maior ad– miração. Em um momen to em que a raiva lhe entortava a boca espumante, procurou a m ão elo bom Pailre, exclamando: - Oh ! qu an to me faz bem a vossa pre– sença! . . . Pedi por mim. Oh! meu Deos, quan to eu soffro. Meus amigos, tenho ábi no meu gabi– nete algun s venenos que em um 5egun– do me arrancariam a estes tormentos que estou soffrcnclo I Mas de modo nenhum, continuou ell e com uma voz mais forte, pr!'liro soll rer até ao fim .. . Sei que a minha alma é immortal I Depois disse com uma voz mais doce . - !\leu Ocos, meu Deos, abreviai os meus soffrimcntos ; permilti que cu vá bem a pressa ver-vos! Meu bom Padre, disse elle depois de um instante de socc– go, clesr,i ava ver minha mulher . .. e mi– nha. m1ii . . . e minha irmã . . . Oh ! ellas amavam-me tanto! O Padre pediu-lhe que se lhes mostras– se cheio de animo e abreviasse uma visi– ta que podia ser- lhes funesta. No mo· menlo fa voravel fizeram entrar a irm,'i; esta apenas iu o irmão perdeu os senti- a:e:c dos. Voltando a si, lançou -se-lhe aü pes– coço: amámo-nos sempre, minha pobre irmã, diz- lhe o doente. ntas fortal ce-te com a esperança el e nos tornarmos a \'êr no céo . .. continúa a amar minha mãi e faz por consolar a minha pobre Lui– za ... . E arrancaram-lh e dos braços a irmã que se lhe despedaçava ali o cora– ção. . Depois, chamaram-lhe a mãi, viuva, quebrada pelos anuas e doente. Ao vêr o leito de seu moribundo filho, cahe. so– bre elle e rega-o com suas lagrimas : - Minha bôa mãi, oh ! eu vivia para vós·.. . Deos quer que eu morra. Sub– mettamo-nos á sua Divina Vontade, é bem curta esta vida; vireis juntar-vos commigo no seio de Deos. Ah! quanto eu vos amava , e corno era pouco, bem pou ao tudo quanto tenho feito por vós em relação ao que o ,·osso amôr tem feito por mim; minha bôa mãi, pobre mãi ! abraro-vos pela ultima vez . . . oxalá c1 ue o meu ultimo beijo vos diga que tendes um filho no céo . . . Adeos ! adeos ! Cheio de uma coragem sobr ehumana, pediu que lhe tr.ouxcssem sua mulh_er. - 1\leu Deos, disse elle, dai-me .a cora– gem ele que tanto necessito. O bom Padre, banhado em lagrimas , introduziu-lhe no quarto a que fôra com– panheira dos seus prazeres das suas ale– grias. Aos dezenove an nos, em vcsprrn de dar á luz um filho, e vêr seu marido em tão deploravel estado ! Para chegar ao leito do moribundo foi mister ampa– ral-a. Dt3pois de um ilencio interrom– pido de soluços afogados pela dôr, o cons– ternado marido dirige a sua mulher as seguinte_s palavras: -1\linha querida Lui7.a, minha cara amiga . . . Oh ! lembra-te da tua fé ! E' urna viagem que vou fazer. . . Não vol– tarei, é verdade; ma irás tu, minha bôa Luiza, juntar-te commigo ... no céõ lmrnmos de nos amar ainda 1••• Lá-es– tão teu pai e tua mãi . . . morreram co– mo bons christãos, tu bem o sabes .... Uma voz intima me diz que eu vou para o céo; tu ficarás para servir de arrimo aos cansados dias da minha bôa mãi o de nosso filho ... Educa-o bem christãmen– te, para que eJle vá um dia encontrar-se no céo,com seu pai , qu e elle não tornará a vêr n este mundo. Oh ! como eu vou pedi r lá em cima por ti, por t>lle, por mi– nha mã.i, por vós todos I Oh l m eu Deos l meu Deos ! Dai-me animo, seja feita a Vossa von tade 1 Os assistentes já não podiam ~upportar esta scena de desolação. Levaram a jo-

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