A Guerra da triplice alliança
- 96 Ambos os estados tinham vivido até entã:1 nas melhores relações de visinhauça (1) e ainda em 186:3 o ministro dos negocios e trangeiros dissera na camara elos deputados no Rio ele Janeiro: « As no sas r ela– ções com essa r~publica offerecem o aspecto lisongeiro de um proximo (1) Nem tanto: houve desintelligencias. Durante o don1iuio tio generel Rosas na Con– federação Argentina, ameaçada a independencia do P araguay por esse dict'\dor, estreita– ram-se as relações de amizade entre os governos do Rio de Janeiro e de Assumpção, e já dissemos, em uma das not:1s ante1iores, que o unico go \•erno com que o Paraguay admittia relações desde 1816 era o do Brazil. Durante o domiuio de Rosas estreitáram-se essas relações, reconhecendo solemnemf1nte o Imperio a independencia do Paraguay, promovendo o mesmo reconhecimento por varias potencias da Europa e da America, e enviando a Carlos Lopez armamento, artilharia, munições, engenheiros e ofticiaes ins– tructores para o seu exercito. Foram officiaes brazileiros os que delinearam e come– çáram a construir as primeiras fort.if1caçõ3s da tão celebre Humaitá. Tudo isso fazíamos, porque Rosas )?reparava-se para a conquista do Es!.ado Oriental e do Paraguay e trazer-nos depois a guerra. Dirigidos por essa polit.ica, celebrámos com o Paraguay o tratado de alliança defensiva. de 25 de Dezembro de 1850. O objecto principal cl'esse trat !l.do era a defesa dv Paraguay, dado o caso de uma aggressão por parte de Rosas, mas o governo imperial não se descuidou dos interesses da navegação, e esti– pulou que a alliança tinha por fim não só a defesa reciproca dos dous estados contra o dictador, como obter a livre uayegação do Paraná até ao Rio da Prata. Celebrada em 1857 a alliança entre o Brazil, o Estado Orient'.\l e as províncias argentinas ele Entre Rios e Corrientes, contra o dictador de Buenos-Aires e seu logar-tenente Oribe, convidámos o l-'arugt1ay para tomar parte n'essa cruzada, não pela necessidade da sua cooperação. mas como gar,rntia do futuro reconhecimento de sua independencia pelo governo argentino. o governo paraguayo não coucorreo com um soldado para essa guerra, allegando que sua alliança com o Im perio em defensiva e não offensiva, e con– tentou-se em participar dos resultados obtidos pelos alliRdos com a victoria de Caseros. O direito por nossa parte ao livre transito para Mato Grosso ficára reconhecido pelo tratado de l!Õ de Dezembro de 18 O, mas o Paraguay desconheceu-o loso, torn:mdo-o depen– dente de novas estioulações e sobretudo do ajuste de limites, ao passo que se uLllisava da abertura dos afiluentes do Rio da Prata pelo Brazil, Rof)ublica Argentina e Estado Oriental. Foi n'estas circumstancias que o governo imperia enviou á Assumpção um encarregado de negocios para reclamar o exercício da navegação a que ti nhamos di– reito, regulai-o do modo mais conveniente aos dois paizes, e resolver a questão de limiteq, que o governo paragt1ayo ligava forçosamente á outra, si fosse possi,·el obter a este respeito um accorJo satisfactorio. Carlos Lopez não quiz separar as duas questõei;,, e sobre os limites pretendeu o que nunca pretendera; não acceitou_ mais as linhas que elle proprio propnzera em 1811 e 184.6, e nem a do Iguatemy, Serra do l\foracajú o Apa, que desde então reclamamos, e era muito mais favoravel para o P araguay que as primitivamente indicadas por aquelle dictador. Uomprehendendo que para o Brazil a questão mais grave e urgente era a elo livre transito para Mato Grosso, recusou se obstinadamente a resolvel-a. Contava que d'este modo seriamos forçados a fixar a linha divisoria, de acconlo com as suas ultimas pretenções. O no ;so representante foi obrigado a retirar-se da Assumpção, pelo modo violento por que foi tratado . Seguio-se a missão especial confiada ao chefe de esquadra Pedro Ferreira, que se apresento u nas Tres Bocas com uma imponente força naval e tropas de desembarque. Essa missão Unha por fim obter satisfação clri offensa feita ao Imperio na pesso,i do seu representante, o o reconhe– cimento do nosso direito ao livre transito pelo rio Paraguay, quando não fosse possivel chegar a um ajuste salisfactorio sobre. todas as questões. Chegando ás Tres Boca'! a nossa esquadr.1, Ca_rlos Lopez fez annunciar que estava prompto para uma n~goc_iação :[)acifica, mas que se lhe enta!\se a presenç11 de uma força estrangeira, que tor,ana 1mposs1vel qualquer uccordo amigavel. Peuro Ferreira, infelizmente, confiou rl emasiadJ n'essas cleclarcições, e subio só até a Ass1unpção, contentando-se com um tratado de n'\vegução e r.ommercio quo seria aceito se pudesse ter logo execução, mas por um'.\ chusul a ficava dependente do ajuste de limiles. O govern o imp9rial não ratificou essas convenções (era ministro dos 11egocios estrangeiros o Sr. visconde do Rio-Branco, e presidente do conselho o mar'luez do Paraná). A missãJ do Sr. con•elheiro J. M. do Amilr.\l não foi mais feliz: Carlos Lo11ez obstinava-se a niio ctiegar a accordo algum. Finalmente cm 1830 apresentou-se no Rio de Janeiro o minis– tro Berges. Parece que a nota brazileira em que se communicava a não ratificação dos ajustes celebrados por Pedro F erreira, e os preparalivCIS de guena que começámos a fazer pro– dL1ziram alguma impressão no animo de Carlos Lopez. Depois de longas confereocias o ,,isconde elo Rio-Branco e Berges assignaram o tr,1tado de O ele Abnl de 1856, db que já faltámos em outra nota, concordando a final o Paraguay em adi9r a questão de limites. Este tratado, poróm, foi de facto annulado logo depois pelo Paraguay, e tivemos nova– mento de concentrar forças na fronteira, iodo à Assmnpção o Sr. visconde do Rio-ílranco. Felizmente poucle este, pela convenção de 12 de Fevereiro de 1858, fixar a vordadeira intolligencio. elo trata~o de 6 de Abril, sendo revog1.dos os regulamentos que vexavam a navega\ão. e consentrndo Carlos Lopez em abrir o rio Paragm1,y a tostas as bandeiras (Vej. a nota a pag. 83). D'ahi em diante as nossas rohções com o Pararruay tornár,m1 a ser amigaveis até que surgiram em 1833 e 18C! os acontecimentos do 'Estado Oriental. So• Jano Lopez começou a governar em 1862. - - ., 4
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