Homenagem a Graciliano Ramos

I seus desejos, e quanto mais eles se recusaram, tanto mais os desdenhou. Sofria de hipocon– dria, de graves ataques de pavor noturno, de angústia. Teve uma misericórdia ilimitada para consigo mesmo. Como psicólogo, reco– nheceu que toda misericórdia para com outros é secreta misericórdia para consigo mesmo: e salvou-se moralmente pela identificação pan– teista do seu eu angu..tiado com o mundo o– fredor, pela fórmu la budis ta : ''Tat t Y,ram a si ,., "Isto, és tú". O seu supremo egocertrismo chegou até a negar a realidade do mundo ex- ' terior; considerou ' a vida um sonho, sonho bl'.'r- rivel do qual existe apenas uma possibilidade de acordar: em outro sonho, na arte. Na arte, o turbilhão angustiado encontra a calma, a es– tabilidade do estado primitivo antes da cria– ção é restabelecida. ( Como as palavras ri– mam, enfim!). A aFte é uma astúcia do espí– rito humano, para fr a uda r o mau D emiurgo das suas vítimas, para ironizar a criação ma- lograda. 1 A ironia é uma arma suprema. "C'es t I'ironie" - diz Max Jacob - "qui lui four n it cha qú e j our un e cl é pour sortir d e sa p rison . " 65 I

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0