Homenagem a Graciliano Ramos

I nós as autoridades. " Assim, tudo ficava bem. Até que, um dia, um tzar teve a i'déia desgraçada de reformar o Estado e a civiliza– çã·o. Fundou uma Academia de Letras e pro– mulgou uma leg islação socia l, em v;irtude da qual "foi proibi'do cozer pão de cimento ou ar– gamassa" . O povo agradecido povoou a cida– de de monumentos dos seus príncipes, na espe– rança de fazer petrificar, parar, assim, as at i– vi'dades deles. Mas, pelos beneficios do go– verno, .os homens transformaram-se em lobos famintos, como numa fábula de Saltykov, o pobre lobo, o mons tro que não é maligno, mas que não pode viver sem carne e que, por isso, deve matar, e invoca a morte _salvadora para as vítimas e para si mesmo. O monstro lembra-me o terrível Leviatã, de J ulien Green, que vive no coração de inÔ– fensivo s mes tres -escolas, fi lhas de família, ren– deiros abas tados, para revol~ar-se de ·súbito, um dia, arremessar-se insaciavelmente, o monstro, por quartos de · assassínio, escadas funest a s, becos escuros, até descansar, esgo– tado, à margem do rio noturno, que corr e len– to, sujo, pela cidade, único r esto da paisag em 61

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