Homenagem a Graciliano Ramos

----------------------------:--------..---i;,---~ r Você viveu e sentiu a fundo tudo o que es– creveu, e é por isso que a .sua própria deshuma– nidade é humana e o que há de anarentemente .... negativo na sua literatura foi a vida que lhe ins- pirou e ensinou. O herói do seu São Bernardo, esse melan- / cólico homem forte, vencedor da miséria, que é ele senão um triste hóspede da vida, ao mesmo tempo atraido pelo que é delicado, e incompatí– vel com a delicadeza; e que vai sempre que– brando tudo com as suas mãos desajeitadas e ásperas? Angústia, Graciliano Ramos, seu li– vro mais duro, mais denso, mais sufocante, é tambem, como São Bernardo, um livro de que sai'mos como de úm tunel. l Quantas almas batidas, quanta gente soter- rada, quantas criaturas dignas de misericórdia e de amparo e que estão no entanto abandona· das a si mesmas, levadas pelas mãos impiedo· sas de um destino mesquinho e triste! De tudo o que você escreveu, Graciliano, o que me parece mais seu, porem, mais arrancado do seu coração, é Vidas secas. E' o seu livro menos literário, é o ,seu livro mais doloroso, mais desconsolado e menos trágico. Nele você fixou 14

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0