Homenagem a Graciliano Ramos

número de amigos, e acalmar definitivamente 0 seu pudor das manifestações. A atmosfera do jantar, porem, era feita para alterar a sua intimidade, para quebrar a sua paz e as suas esperanças. Graciliano Ra– mos ficou durante duas horas como uma espé– cie de alvo, onde se concentravam todas as pa– lavras, todas as atenções e todos os olhares. Cada conviva, de per si', observava um lado do romancista ~inqi1entenário. Em toda a sala, entre cem pessoas, inclusive um ministro de Estado, só havia Graciliano Ramos - contin– gência que atingia o seu efeito mais agudo ao forçar o próprio Graciliano a se observar e de- vorar a si mesmo. Todas as nuances, todas as inflexões de voz, todas as alterações fisionômicas dos con– vivas estavam em função da pessoa, da obra ou da vida de Graciliano Ramos. Tudo evo– cava o romancista com uma perfeita voracida– de. E até, num misto de homenagem e ad– vertência, o cardápio se inscrevia com o título de seus quatro li'vros. Um certo "perú à An– gústia", que assim d esignado talvez horrori– zasse o bom-gosto ( e mesmo o bom paladar) 99 I

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