O Liberal: jornal da amazônia. Edição n° 22.574. Quinta - feira, 08 de fevereiro de 1990.

Belém. quinto-feiro. 8 de fevereiro de 1990 Jornal dos Bairros O LIBERAL 3 Dos quase 20 pessoas que o compunha, nos décadas de 40 e 50, o grupo de Drago ficou reduzido a três m0slcos Em Belém, as ladainhas sobrevivem na periferia Do centro da cidade elas foram embora há muito tempo, expulsas pela rrwdificação nos costumes O s bairros de Belém sempre fo– ram palco de diversas festivida– des religiosas com vínculos cul– lurais. Veneração de imagens, procissões, ladainhas e orações são al– guns exemplos dessas demonstrações de fé dos belenenses. Para que a memó– ria dessas práticas não se perca com o tempo, o tocador de ladainhas Marco Quintino Drago, 91 anos, vem escreven– do relatos sobre o assunto. Tocador de trombone e morador do bairro do Telé– grafo, Drago - como é conhecido - di– vide com mais quatro amigos a respon– sabilidade pela realização de ladainhas em diversos locais de Belém, principal– mente casas de família que ainda man– têm a tradição da ladainha musicada em homenagem aos santos do Catolicismo. É na periferia da cidade que as la– dainhas acontecem com mais freqüên– cia, embora os tocadores atuais nao le– nham que enfrentar as mesmas dificul– dades dos de antigamente. Em épocas passadas, os que se dedicavam à reza itinerante suportavam verdadeiros sa– criiicios em nome dessa modalidade arlistico-religiosa: tinham que atraves– sar pontes, andar por ruas completa– mentes alagadas e substituir as funções destinadas às Igrejas, antes esporádi– cas em Belém. Fitas, velas e festejos profanos após as orações completavam as ladainhas. A maior diferença entre as ladai– nhas da década de 40 e as da de 90 são, segundo Drago, a falta de união da co– munidade. "E só na periferia que as fa– milias manlém o hábito de. reunir os amigos para as orações", observa. Mesmo afastado do centro da cidade, esse tipo de oração comunitária ainda é bastante requisitado em Belém. Duran– te todo o mês de fevereiro a agenda de Drago e seu grupo (composto de um clarinetista, um saxofonista e um pislo– nista) esteve completamente lotada. Velas acesas O mês do carnaval fica reservado às pequenas orações em casa. " No dia 2 de fevereiro é feita a veneração a Nossa Senhora das Candeias, ocasião em que o costume manda que sejam acesas ve– las na porta das casas", relata o músi– co. Em junho, as ladainhas destinam-se à veneração dos santos comemorados naquele mês e amplamente homena– geados pela tradição popular: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal. Nesse mês, o grupo de Drago costuma realizar diversas apresenta– ções. "Em média, rezamos entre 3 e 4 ladainhas por noite". O Jurunas é o bairro onde mais são rezadas ladainhas. Drago acredita que isso deve-se ao rato de o local ser habi- lado, majoritariamente, por pessoas de origem africana. " As ladainhas têm origem nos cultos de umbanda", infor– ma o tocador de trombone que, entre– tanto, aponta como raízes mais profun– das as jesuíticas. "Eu aihda não fiz qualquer estudo a esse respeito, mas acredito que foram os jesuítas que trou– xeram as ladainhas para o Brasil". Antes da edificação da Igreja de São Raimundo, no Telégrafo - bairro onde Drago reside desde 1917, com a fa– mília - as ladainhas tinham espaço ga– rantido nas casas. "Nós chegamos no dia 6 de janeiro em Belém. Meu irmão morava no fim da estrada São João, bairro do Telégrafo Sem Fio, esquina com a travessa Rosa Moreira", recorda. Crise Apesar da relulãncia da familia, o franzino menino Drago já se interessa– va por música desde tenra idade. "Quem sabe se a música não vai um dia me servir na vida", questionava-se, ainda criança. O trombone muito o aju– dou quando, em 1917, trocou o municí– pio de Mauá (no sul do arquipélago do Marajó) por Belém. Na época, uma tre– menda crise financeira assolava o Es– tado do Pará, devido à I Guerra Mun– dial, iniciada na Europa em 1914 e de que participavam os Estados Unidos e o Brasil. "Todas as empresas estavam afe– tadas e não aceitavam novos funcioná– rios. Os governos estadual e municipal atrasavam o pagamento de seus funcio– nários. Das empresas marítimas, so– mente a "Amazon River" - pertencen– te ao consórcio Inglês-Brasileiro - pos- Apesardo mudança nos costumes, ele nõo desiste das ladainhas suia sede em Belém e explorava o ser– viço do porto. O comércio da borracha - onde lrabalhava a maioria dos inte– grantes da família de Drago - teve seu quadro efetivo limitado pela crise e, quando esta acentuou-se, a íamília viu– se obrigada a abandonar as plantações de seringa. Chegando em Belém, após um pe– ríodo de muita luta, Drago consegue uma vaga para tocar na banda do Cor– po de Bombeiros. Dai, foi um passo pa– ra a formação do grupo atual. "Após as orações, eu chego cheio de mocidade em casa. A vida necessita de um pouco de lirismo e humorismo", ensina o ve– lho músico, que se afirma exuJtanle e revigorado após as conversas com os amigos e as reuniões religiosas nas ca– sas das famílias que o contratam. VESTIBULAR EXCWSIVO CB 1• 1-..r pral 40 Vestlbv.lar 111110 da lJPPa. Walter Kadelro■ de Kello Junior MATRICULAS ABERTAS End. Dr. Motoes n• 115 enlre lw. Nozorê • Broz do ~uior. Tol., 222-5803 CCX)Rl)ENAÇÃO PROF. MARINHO_

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