O Liberal: jornal da amazônia. Edição n° 22.573. Quarta - feira, 07 de fevereiro de 1990.

6 O LIBERAL Jornal dos Bairros . Um feliz casamento de 22 anos com o teatro Henrique da Paz, tem 40 a nos e ma is de 30 peças, figurando como presença certa na história do teatro_ nome Henrique da Paz é presença certa na his– tória do teatro paraense. Mais de 30 peças fa– zem parte do curriculo desse ator e diretor de 40 anos. morador do bairro do Jurunas, que afirma haver entrado em contato com a arte teatral ainda garoto: seu pai, Justino da Paz, era funcionário do Teatro da Paz e o levava. de vez em quando. para assistir aos espetáculos ali apresentados. Primogênito de uma prole de ti filhos. Henrique nasceu em Belém, mas aos 15 anos foi morar em Jcoaraci, com a familia . Corria o ano de 64, marco inicial da ditadura militar que go– vernou o país por mais de duas décadas e também de uma forte movimentação cultural, que teve no teatro a marca dos grupos Arena e Oficina e, entre outras coisas marcantes, os acordes dissonantes da TropicáJia. Nesse clima, em Jcoaraci, a carreira teatral de Henrique começou. Com um grupo de amigos, em 68, fundou o Gru– po de Teatro de Arena (GTAJ. Atuavam ligados à Igreja, mas já dando uma roupagem inovadora e moderna a seus trabalhos. Apresentavam-se no sa– lão paroquial da igreja matriz da V-lia. ú estudante de Sociologia Samuel Spener - muito ligado a toda a efervescência político-cultural da época - foi quem indicou o caminho teatral mais coosequente ao grupo. " Ele começou a jogar uma série de ques– tões para gente,geralmente questões políticas, e nos sugeriu a montagem de uma peça'". contou Henri– que. Nasceu então o "Show de Cantorias da Juven– tude Livre', colagem que reunia os textos de " Liber– dade, Liberdade', " Arena Conta Zumbi" e " Opi– nião", além de material do próprio grupo. Entretanto, o grupo não estava satisfeito. Eles queriam mais e, em 69, fundaram o Grupo de Tea– tro Amador (Gruta), legalmente constituído. O ca– minho teatral dos jovens ficou mais consistente. Montaram o primeiro espetáculo: "O Auto da Cana– néia". Seguiram-se "Joãozinho Anda Pra Ttás" "Natal na Praça" e "A Menina e o Vento". Vieran:i contatos com atores de Belém e com profissionais de outras capitais. Estes, surpreendidos com o tra– balho dos jovens de lcoaraci, os incentivaram bas– tante. Desses contatos, ficou a amizade com Geral– do SaUes, que dirigiu com eles o espetáculo "O Tes– tamento do Cangaceiro" . A peça, enlretanto, não chegou a ser apresentada, pois foi embargada pela censura no dia da estréia, com casa lotada. Temen– do cortes que neutralizassem a força do trabalbo, 0 grupo não apresentou o texto à censura, mas foi denunciado. Convite Grátis Henrique conta que os espetáculos l,ram feitos às custas do próprio grupo, quase sem apoio algum principalmente dos órgãos oficiais. As tempora~ eram bem curtas, ~o máximo três dias, e os ingres– sos não eram vendidos. "Nó,; distribuíamos convi– tes, por isso dava muita gente nas apresentações" exphcou. OGruta montou, ainda, " Os viajantes" ....'. pnmeira mcursao de Henrique na direção - , " Pluft, o Fantasminba" e "A Paixão Segundo 0 Gruta" , colagem de textos com influência das óperas-rock " Hair" e "Jesus Cristo Superstar'' e primeiro trabalho em arena que fez. A década de 70 Já se desenrolava. O grupo se apresentara em Be– lém algumas vezes e foi oonvidado a participar do I Encontro de Arte de Belém, organizado pela Uni– v~rsidade Federal do Para, percorrendo 21 municl– p,os do Estado, no projeto intitulado Barca da Cultura. He_~que foi convidado para trabalhar em uma peça dirigida por Geraldo Salles, que estava à freo. te do grupo do Sesc em Belém: "Aat4iona", de Sdlo– cles. ~teve seu trabalbo no Gruta, atl que O gru– po se dissolvesse. "Eu me empolguei e fiquei fuen. do teatro aqui e em lcoaraci", contou. Geraldo Sal– les fundou o grupo Experiência, no qual Henrique ingressou. em 76, na montagem de "O Beijo no As– falto", te,cto de elson Rodrigues. Fez. ainda com o Experiência. "A Ameaça", " Dom Chicote Mula Manca", "As Beterrebas do Senhor Duque", " Pluft, o Fantasminha" e o " Rapto das Cebolinhas... Em 71 descobriu o grupo Cena Aberta, que apresentava seus espetáculos no anfiteatro da pra– ça da República. Nesse grupo, de grande embasa– mento político, fez o " Festival de Comédias", que reunia "O Inglês Maquinista", "O Novo Otelo" e --- ~ Belém. quarta-feira. 7 de fevereiro de 1990 "Triângulo Escaleno", este último retirado pela censura. Ficou no Cena Aberta até 89, participando das seguintes montagens do grupo: "A Paixão de Ajuricaba", " Cena Aberta Conta Zumbi" , "A Ma– ravilhosa História do Sapo Tarõ Bequê". " Eles Não l)sam Black Tie" <dirigida por Henrique>, "O Auto da Compadecida" (também com sua direção), " A Fábrica de Chocolate" (já no teatro Waldemar Hen– rique), "O Palácio dos Urubus", "Theastai Thea– tron", "Tronthea Staithea" e "Genet, o Palhaço de Deus". Com o Cena Aberta. participou por duas ve– zes do Festival Brasileiro de Teatro Amador: em Recife (84), com "Theastai Theatron", e em Brasí– lia (88), com "Gcnet, o Palhaço de Deus". Caosconcadicáfica Em 87, juntamente com o ator Marton Maués, reativou o Gruta, montando o espet;ãculo ·•cínicas & Cênicas", onde lrabalhava como diretor e ator. Ano ~:~t~tt::aºa%';:'~;~~~~~•t'"f~.;;: so", de Franz Kalka. O espetáculo vai participar, em março próXJmo, da Mostra de Teatro da Federa– ção Estadual de Atores, Autores e Técnicos de Tea– tro (Fesall e tem temporada marcada para a se– gunda quinzena do mês de abril, no teatro Walde– mar Henrique. Henrique é professor de Educação Artística, formado pela UFPa, e atua na rede municipal de ensinQ. Artista plástico bissexto, já fez inúmeros cartazes para espetáculos de teatro, dentre os quais "AJzira Power' e "Theaslai 1beatron.., nos quais também trabalhou como ator. Ilustrou livros e já montou duas exposições: a primeira, de máscaras em cerâmica, juntamente com a artista Heloisa Marques (na galeria fsmael Nery, do teatro Walde– mar Henrique, em 1985) e a segunda, de desenhos em nanquim (no bar 3X4, em 87). Participou. como convidado, da 1° Arte/Paixão, mostra organizada pela Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, por ocasião da Semana Santa, cmabril último. Para Henrique, três problemas básicos atin– gem o lealro paraense: a questão econômica dos grupos (que não recebem subvenção efetiva dos ór– gãos públicos e são marginalizados pelos empresá– rios locais), a carência de espaço (os poucos tea– tros, na sua maioria, não são acessíveis aos grupos devido à precária situação ecooõmica atravessada por estes), e o pequeno respaldo do público (que não acredita nos espetáculos locais, ausentando-se dos teatros). Quanto à formação da categoria teatral paraense, ele acredita na implantação de uma polí– tica de intercâmbio, com a realização de pequenos cursos e oficinas patrocinadas pelos órgãos oficiais de cultura, para suprir, em parte, algumas das defi– ciências do setor. Há cinco anos no Jurunas, Henrique diz que gos– ta muito do local em que mora: "Na fronteira entre Bastista Campos e o Jurunas, entre o rico e o po– bre", como ressaltou. Do Jurunas, ele gosta, sobre– tudo, da movimentação. '"€ um bairro bem anima– do, lem um certo astraJ", afirmou. Ele começou em 19611, quondo fundou o Grupo de Teatro de Arena, que atuOYO ligado O lg,eJa e tez -Show de Cantorias da Juwntude Uvre" e "Arena Conta Zumbi~ entre outros trabalhos.

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