O Liberal: jornal da amazônia. Edição n° 22.572. Terça - feira, 06 de fevereiro de 1990.

4 CIDADES Diante de um túmulo João Maiato o Conselho de Cultura do Estado, ao qual ~e– nho a honra de pertencer, realiza hoJe uma sessao solene em homenagem à memória do seu sa~do– so e conspícuo membro, desembargador S1lv10 Hall de Moura. Seo meu estado de saúde permitisse a minha comparência a tão nobre e dignifica~te ato,_esta seria a minha modesta e breve mamfestaçao. "O que me atraia na figura sóbria ~ harmo– niosa de Silvio Hall de Moura, era a sua imutável e irredutível seriedade. Jamais contemplei em ou– tra criatura humana, dentre as milhares com quem privei, nesta minha longa vida, um tão alto sentido de gravidade pessoal e de intrínseca com– postura, como o que dimanava da personalidade desse magistrado irreprochável, que nasceu com a destinação da Justiça como as grandes árvores nascem com a destinação de enfrentar os ele– mentos. Conheci-o bastante moço, aí pelos idos de 40, quando ele ensaiava os primeiros passos na judi– catura, nas funções de promotor numa das comar– cas do Salgado, na de Marapanim, se não me engano. Eu viajava pela zona bragantina,em com– panhia de Deodoro de Mendonça. e descemos em lgarapé-Açu para almoçar. Já amesendados, vi Deodoro cumprimentar um moço, ainda imberbe, que tomava a sua sopa numa mesa próxima, e que retribuiu a saudação do secretário geral do Esta– do com delicada discrição. Deodoro convidou-o pa– ra a nossa mesa, mas ele pediu desculpas mas preferiu ficar onde estava. Quando Deodoro disse– me de quem se tratava, percebi que, talvez, fosse eu o motivo da recusa do moço-promotor em vir juntar-se a nós. É que, meses antes, eu fora força– do a travar urna azeda polêmica, pela imprensa, com um confrade que não era outro senão o dr. Levy Hall de Moura, que não poupo-me de injú– rias, que eu relribuia no mesmo diapasão. Essa condição fraterna, possivelmente, constrangera o jovem promotor de Marapanim, em comungar conosco. Com o andar dos tempos, e o nosso comum amadurecimento, essas coisas foram esquecidas, e eu cheguei a desfrutar da honrosa amizade de Silvio Moura, a qual se fez maior por ocasião dos acontecimentos de 31 de março de 64, quando os Inquéritos Militares devassavam a vida de todos os que incorriam em suspeição e o governo, tam– bém militar, lavrava demissões a torto e a direi– to, e das quais muitos juízes não se livraram. Silvio ocupava, então, uma das varas do Jui– zado de Direito da capital, e como se odestino qui– sesse provar-lhea coragem e ocaráter, meteu-lhe nas mãos, para julgar, um processo reivindicató– rio em que o querelante era um alto funcionário do Estado que se dizia violentado em seus direi– tos adquiridos e reclamava a sua reintegração no cargo de que se julgava espoliado pelo arbítrio re- volucionário. . Era duvidoso que existisse um juiz, no Pará', capaz desentenciar numa causa dessas,que já vi– nha de outras varas, com o despacho acomodati– cio de ''suspeição", por motivos advenientes... Surpreendentemente, porém, Sílvio Hall de Moura chamou a si o processo e deu-lheandamen– to, até explodir numa sentença que tanto tinha de profundamento e jurídica, como de brilhantemen– te conccituosa e corajosa. Acidade, imediatamen– te, encheu-se de boatos. O Palácio da Justiça fervilhou de gente curiosa e pasmada com o de– safio de um homem só contra todas as forças de uma Revolução. Para completar o estarrecimen– to, eu fazia inserir-na "Folha do Norte" do dia se– guinte, um candente ''suelto" em que comentava o feíto, ao mesmo tempo que enaltecia, merecida– mente, a bravura e a integridade espartana do julgador. Com esse episódio, a aproximação entre o juiz e o jornalista fez-se maior, e nenhum livro de ju– risprudência, nenhum opúsculo aquele publicava que este não fosse distinguido com um exemplar, em que o carinho da dedicatória não excedesse o merecimento de quem a recebia. A despeito, po– ré~, da cama_radagem cordial _que nos unia, eu ja– mais procurei ultrapassar as lmhas ideais da sua intimidade, tolhido quesempre me senti poraque– le espírito de reserva e de seriedade que parecia governar a ação social, profissional e mesmo fa. miliar daquele excelso e imorredoiro magistrado - o maior, talvez, que já terá passado pela nossa mais alta Corte de Justiça. Disse". ·XXX· Pepitas do meu garimpo "A viJ:tud~ vencida mas pura, é mais forte do que o vício triunfante" (Robespierre). - "A probidade é a virtude essencial dos ver– da_deu:os democratas, mesmo porque o povo olha, pr1me1ro 9ue ludo, para as mãos daqueles que o governam '. (Lamartíne). "Nas revoluções, a vitória fica sempre para os celerados". < Danton). - "Nos turbil~ões.revolucionários, a plebe se a~emelha aos amma1s carmvoros, que esperam o fim dos combates para devorar os cadáveres" (Wergniaud). · - ''.N~o ~ vo]~ à ,yida moral, como nãose vol– ta à ex1stênc1a fts1ca . (Robespíerre). - "A coragem é a primeira das eloquências porque é a eloquência do caráter". (Marat) ' "Toda íniquidade que urna sociedade livre·dei– xa subsistir em proveitodos o~,·essores, é uma es– pada_ com _que se arma os oprimidos. O direito é a m~JS perigosa d.!s .~asl,e desgraçado de quem a deixa aos se~ 1mm1gos . (Lamartíne). .- O cor~çao do homem é como a mó de um momho: Se Jogardes trigo, tereis farinha ; Se jo– gardes,.pedras, tereis casca~ho". (Fulton heen>. - Onde não há amor, nao há ação nem vida. O h?mem não será ele mesmo, se não for amado e nao se esforçar por amar". <R. Volllaume) ;;Sou eu,_ Gabriele, que me ofereço aos d~u– ses! (Inscrição que o escritor italiano Gabriel DAN U ZIO,_ fez mscrever em seu túmulo no al– to de uma colma, diante do lago La Garda). M CDULADfS ~ários embutidos. Coz1.nhas planejadas. José Bonlfác/~1904•Fone: 229-2362. O LIBERAL Belém. terço feiro. 6 de fevereiro rJ•~ 1?'.2Q Jabota de 70 quilos é o centro das atenções no Museu Goeldi Apelidado de 'Tieta ', o quelônio te-m peso e tamanho incomuns para a espécie. Foi doado há pouco tempo e passa bem ... A nova atração do Museu Paraense Emllio Goeldi é uma jabota apeli– dada de "Tieta", pesando cerca de 70 quilos e com q~ase _um m~tro de co_m– primento. O veterinário Antomo Messias Costa disse que oanimal poss_ui tamanho _e peso incomuns para a espécie. Ele expli– cou que os jabutis "vivem em florestas úrnidas, comem frutas, raizes e vegetais. Aqui no MPEG nós damos ração, verdu– ras e frutos da estação. A média de peso da espécie é de 8 quilos. O que se_conhece no Brasil são animais desta espécie pesan– do no máximo 25 quilos". Ele informou que a jabota, cujo nome científico é G~o– chelone denliculala, foi doada pelo médico Rober\Q Botelho, de Porto Velho <RO>. A jabota, que mede quase I metro, está comendo e se comportando normalmente. Antônio destacou algumas caracterís– ticas dos quelônios para explicar ocaso de "Tiela". 14 Aocorrência desse animal não está restrita à Amazônia. Os quelônios e os jacar~ vivem mais de 100 anos. Nos primeiros anos de vida o crescimento é mais rápido que nos últimos anos, embora os quelônios nunca parem de crescer. Há dois fatores que determinam o crescimen– to: dieta e exercícios. Isso faz com que não possamos precisar a idade de 'Tieta ', porque ela, provavelmente, deve ter sido capturada quase deste tamanho. Esse ani– mais crescem menos em cativeiro". Ele revelou que o maior grupo de quelônios já encontrado no mundo foi o das tartarugas das ilhas Galápagos, que pesam em torno de 300 quilos. "A tartaruga da Amazônia - que está 'encostada' no grupo dos quelô– nios - pesa, em média, 50 quilos", explicou. Messias disse que a preocupação do MPEG é encontar um macho de tamanho proporcional à "Tieta". "Apesar de a es– pécie não estar em extinção foi uma doa– ção muito válida, por ser um animal inco– mum. Ela está bem e foi colocada com os outros animais porque não apresenta ne– nhum sinal de doença e está comendo e se comportando normalmente", afirmou. Gastos torna~ ingressos mais caros Os ingressos para o Museu Paraense Emílio Goeldi vão aumentar a partir de hoje. A entrada para um passeio simples no parque vai custar NCz$ 5,00 - NCz$ 15,00 incluindo a visitação às exposições permanentes -, informou Joice Santos, da assessoria de imprensa do MPEG. O aumento se deve, em parte, às despesas com manutenção, cuidados e alimentação que o museu tem com os animais. Bento Mascarenhas, diretor da Divi– são de Zoobotãnica, disse que o dinheiro dos ingressos é gasto nas despesas da ins– tituição. "Nós recebemos verbas do Con– selho Nacional de Desenvolvimento Cien– tífico e Tecnológico (CNPq), mas são in– suficientes para fazer as reformas, pagar pessoal e ainda dar toda a assistência ne– cessária aos animais. O ideal seria que a instituição pudesse gerar seus próprios recursos para garantir o ambiente e a ali– mentação dos bichos", declarou. Bento disse que o MPEG gasta cerca de 300 qui– los de carne bovina por mês. "Os anímais consomem seméntes de girassol, carne bovina e ração, para aves e peixes. Ades– pesa é grande e os custos altíssimos, além do que o preço da entrada estava defasa– do", disse. Doações A superlotação nas dependências do museu preocupa o veterinário Antônio Messias Costa. Ele disse que o MPEG tem urna área de apenas 5,2 hectares. Ele res– saltou que uma das preocupações é colo– car no Parque Zoobotãnico "uma amostra representativa da fauna amazônica, que priorize a qualidade à quantidade". Mes- ~!s :r~~:~ro~ ~~~~~~d~e~:i~~~!~~:~~~~~ ra as doações de animais que a instituição recebe. " Nós damos uina atenção espe– cial quando se trata de espécies em extin– ção ou animais de características .inco– muns, como a jabota 'Tieta' e, a despeito do espaço limitado, lemos procurado dar as melhores condições aos animais", afir– mou Messias. Oveterinário disse ainda que o museu não tem recursos nem espaço disponíveis para a quantidade de doações que vem re– cebendo. "Nós apelamos às pessoas que queiram doar animais que nos telefonem antes, para serem orientadas. Normal– mente os animais, quando chegam no mu– seu, estão doentes, desnutridos ou com fraturas, vindo a morrer em seguida. Isso Balanço da sua empresa publicado em O Liberal dá lucro. Lucro em circulação, lucro em qualidade, lucro em credibilidade. E se o balanço ocupar mais de um quarto de página, dá direito a bonificações: 25 exemplares do jornal e 2? reproduções em papel branco. Contabilize tudo no próximo balanço. O LIBERAL JOAUl Ol llllhll se dá porque existem dois tipos de doa– ção: a do tipo preservacionista e outra, que ocorre quando o animal passa a re– presentar um problema para seu dono" , declarou. A estagiária de Biologia, Andréia Be– zerra, disse que "muitos animais morrem em nossas mãos, não por falta de trata– mento, mas por maus tratos anteriores. Quando chega alguém para doar um ani– mal a gente orienta, porque aqui está lota– do" . Para Bento Mascarenhas, o mais sensato "é cuidar do animal- mesmo não ~~n~~M~i~ ds:;1~ ;d,~e; ~~ªt~~~jt~~ doar para outra instituição que possa recebé-lo". Alerta Antonio Messias Costa alertou para o perigo de se adquirir animais silvestres nas ruas, informando que costumam de– senvolver "doenças que estavam laten– tes" ao sair de seu habitat. "É comum que papagaios transmitam doenças respi– ratórias e micoses. Os primatas podem transmitir hepatite, herpes, tuberculose, verminoses e leptospirose", explicou. Recrutamento no Corpo de Bombeiros N<..-sla épocé.1 tlc ~r1sc, subemprego e caréncw de • vagas nas escolas. o Corpo de liomt>c1ms Mililarsurge como uma hoa oporlunitla de a raJ>étzcs de IK a i:; anos, que lenham termina· do o 1 ° grau e que se encun• trem cm dificuldades para escolher uma profissão A corporação está rccrulan• do novos soldados,cx1g,nd,, apenas o seguinte: ser rc– scrvislcJ de t• ou 2• catego– ria,ou aprcscnlé:açâo do ccr• tificado de Dispensa de In– corporação; ter altura mí– nima de 1,60 melro; ccrUíi· cado de conclusiio do J '' grau; não ser arrimo de fa. milia; não eslar respon– dendo a processos nos ró– runs civil e militar; sahcr nadar e apresentação de declaração de hom com– portamento pelos candlda• los que lenham servido na!-i Forças Armadas. Em contrapartida, o Corpo de Bombeiros ofere– ce fardamenlo, salário, as– sistência médica, alimen• t.ação, ascensão funcional nos quadros de mecãnico de autos, lanterneiro, pin– tor, eletricista de autos e corneteiro. As inscrições terminam no dia 16, no quartel central daquela corporação, à rua João Diogo, nº 236, ao lado do Tribunal Reg io nal Eleitoral. Engenheiros treinados na Embrapa Para aprimorar os co– nhecimentos sobre a cultu– ra da pimenla-<lo-reino e outras especiarias, dois en– genheiros agrônomos da República Dominicana permanecerão durante dois meses na Embrapa de Belém, como parle do con– vênio de cooperação técni– ca firmado entre os gover– nos do Japão e do Brasil. Esse convênio, que termi· • na em março, visa treinar e aperfeiçoar mão-de-obra em agropecuária, através da Agência Internacional • de Cooperação do Japão (JICAJ. O treinamento - desti– nado aos dois técnicos do– minicanos - está sendo ministrado por pesquísado– res do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico úmido (CpatuJ e da UE– PAE, de Belém, - duas unidades da Embrapa - . e inclui transferência de co-– nhecimenlos nas áreas de íitossanidade, sistema de produção, aspectos econô– micos da pimenta-do-reino, consórciocom outrascultu– ras, além de fiscalização e classificação do produto.

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