O Liberal: jornal da amazônia. Edição n° 22.567. Quinta - feira, 01 de fevereiro de 1990.

Belém. quinta-feira. l de fevereiro de 1990 Jornal dos Bairros O LIBERAL 7 Fotos: Pouk, Amorim O teatro no sangue de Edgar Castro: um ''vírus'' hereditário Edgar começou sua vida artistica bem cedo, pois a arte era urna herança de familia: sua avó _dirigia um grupo teatral, e a mãe fazia novelas espetáculo teatral "Garatuja", montado O pelo grupo Pé na Estrada e que teye sua estréia no dia 1? de novembro, f01, sem dúvida, um dos melhores momentos do teatro paraense no ano passado. O espetáculo é também o coroamento da carreira do artista Ed– gar Castro, 26 anos, que o escreveu, dirigiu e in– terpretou. "Garatuja" é um monólogo e segue carreira ainda este ano, pois além da participa– ção na mostra da Federação Estadual de Atores, Autores e Técnicos de Teatro (Fesat), que acon– tece em março, foi convidado para participar da Mostra de Teatro Amador de Fortaleza, que acon– tecerá no próximo mês de abril, em Aracati, e também está com temporada marcada para a pri– meira quinzena de abril, no teatro Waldemar Hen– rique. Edgar pretende, ainda, mostrar o trabalho em outras cidades do pa;s. "Quero rodar com o "Garatuja" um bom tempo. Morador do bairro da Pedreira, Edgar conta que começou a fazer teatro bem pequeno ainda. O "vírus" das artes cênicas lhe foi passado pela família. Sua avó - com quem morou nos primei– ros anos da infância - era diretora de uma esco– la em Icoaraci e costumava montar espetáculos estudantis, dos quais ele participava, com mais ou menos seis anos de idade. Sua mãe fez muitas no– velas de rádio, na extinta PRC-5, ao lado de artis– tas como Cláudio Barradas e Nilza Maria. Aos 11 anos foi morar em Brasília, com a mãe, que fazia teatro em um grupo daquela cidade. Edgar entrou na troupe. De volta a Belém ingressou no grupo Cena Aberta e, a partir daí, entrou "de cabeça" no teatro: "Não saí mais". Com o Cena Aberta fez "OAuto da Compadecida", com direção de Henri– q~e da Paz, em 81, e "OPalácio dos Urubus", com direção de Luiz Otávio Barata, em 82/83. Necessidade x Vontade Trabalhou na montagem de "All That Carim– bó", do grupo Star, com direção de Milton Cunha Júnior, também em 82. Depois disso, afinado com a proposta, passou a fazer parte do grupo Pé na Estrada, recém-<:riado pelos atores Evandro Pa– leio e Marialba Castro. Nesse grupo, teve início sua carreira de diretor, ''mais por necessidade do que por vontade". Embora admitindo que o traba– lho de direção "enriquece muito o ator", Edgar afirma que seu "barato" não é esse, mas interpre– tação. Preferências à parte, dirigiu "Os olhos do Pé na Estrada", onde também trabalhou como ator, em 83, "AKoysa Extranha", da qual fez a re– dação final do texto, em 84, e ''Kamikazing", cujo texto é de sua autoria. Com o grupo Experiência, Edgar dirigiu, jun– tamente com Cláudio de Barros, o espetáculo "A Torra é Azul?", onde atuou também como ator. Fez ''A Mulher sem Pecado" e a assistência de dire– ção do espetáculo "Quem te Fez Saber que Esta– vas Nu? ", além de fazer algumas apresentações em ''Ver-de-Ver-o-Peso". Com a coreógrafa Téka Sallé, atuou nos espetáculos "Consumação" e ''Amordaçado/Amor Dançado". Outros trabalhos foram ''A Mala Sem Fundo" (peça infantil da es– critora Heliana Barriga), ''De Pé a Pé não vamos a Pé" (infantil, com o grupo Cuíra), e a Oficina de Teatro da Casa de Estudos Germânicos da UF– Pa, realizada entre 83 e 82, onde atuou nos espe– táculos ''A Importância de Estar de Acordo", de Bertold Brecht, e "Woyzeck", de Büchner. "A Ofi– cina me fez pensar mais seriamente o teatro, ler mais e questionar as teorias teatrais existentes", contou Edgar. Ele já foi por três vezes ao Festival de Teatro de Campina Grande, Paraíba. Em um deles, com o espetáculo ''A Terra é Azul? ", ganhou o prêmio de melhor diretor. Participou também do Festival de Teatro Amador de Ponta Grossa, Paraná. Uma das idas a Campina Grande lhe valeu o convite pa– ra dirigir um espetáculo do grupo Raça, de For– taleza para onde foi em 88. Lá, encontrou o grupo passa~do por uma fase de balanço. O ''Raça" não deu em nada, mas Edgar foi convidado para diri– gir uma oficina de teatro que resultaria em um espetáculo destinado aos servidores da Universi– dade Federal do Ceará, através de sua associação. ''Foi minha primeira experiência com oficina. Li tudo que pude sobre o assunto e dirigi apavorado; mas deu tudo certo", lembrou. Para esse trabalho, Edgar tinha salário e uma infra-estrutura difícil de ser encontrada no meio teatral amador: espaço para ensaios e dinheiro para a montagem. O espetáculo era a adaptação de um Moliére: ''Preciosas Ridículas". A peça foi a Campina Grande e ganhou o prêmio de melhor cenografia e uma indicação para melhor ator. Na capital cearense, Edgar montou aínda ''Woyzeck"; com os integrantes da oficina, e "A Koyza Extra– nha", com o grupo Zarabatana, ganhando nas ca– tegorias melhor texto, melhor espetáculo e melhor atriz do Festival de Teatro do Sesi local, concor– rendo com os ''medalhões" da cidade. Dramaturgia Avolta a Belém aconteceu através de um con– vite do diretor Geraldo Salles, do grupo Experiên– cia, para dirigir uma oficina com o elenco que se preparava para a montagem de "Quem te Fez Sa– ber...". Topou, veio e enquanto dirigia a oficina, con– seguiu emprego na Funtelpa. Ficou por aqui mesmo, já com a idéia de montar "Garatuja", que escrevera em Fortaleza. Atualmente, além da pro– posta de levar em frente a carreira de "Garatu– ja" e de estar trabalhando como assistente de direção do novo espetáculo do grupo Experiência, ''A Garota do Rio Guamá", Edgar se dedica à sua nova paixão: a dramaturgia. Mandou um de seus textos, "Hipocondria", para o concurso de drama– turgia promovido pelo Sesc Vila Nova, de São Pau– lo, e está torcendo para g~nhar um dos prêmios. De seus planos atuais consta uma adaptação das obras "O Principe" e "Mandrágora", de Ma– quiavel. A idéia ganhou força após o resultado das eleições presidenciais (o fato deu mais subsídios à proposta, feita a ele por Geraldo Sales). Edgar se ressente da falta de incentivo por parte dos ór– gãos oficiais de cultura na área da dramaturgia e diz que o maior mal do teatro local "é uma cer– ta inconseqüência". De acordo com o artistaa, "se as pessoas fossem mais atuantes e aprofundassem mais o trabalho que fazem, ganhariam mais cré– dito junto ao público e aos órgãos oficiais, diante dos quais teriam maior poder de barganha". Pa– ra ele, o teatro em Belém está passando por uma entressafra. ''Antigamente se levava mais fúbli– co ao teatro", comentou, acrescentando que 'cres– cendo em quantidade, o teatro cresce em qualidade".

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